Dia 6 – 3ª feiraEste foi o dia que embarcamos para a Córsega.
Saímos cedo do camping Smeraldo, fizemos a A12 rumo a Livorno onde sabia que havia um ferry as 14h para Bastia. Como não tinha nada reservado era importante chegar a tempo de comprar bilhete e embarcar.
De Sestri Levante a Livorno são menos de 200km, pelo que o ritmo foi pacifico.
Pelo meio fiz um desvio a Pisa para tirar umas fotos e ver a torre inclinada. Tava um calor do caraças. Aproveitamos e compramos comida para levar para o almoço, pois os comes e bebes a bordo do ferry são caríssimos. Tirada a foto da praxe la seguimos viagem.
Chegamos nas calmas e a tempo de apanhar o ferry. Bilhete comprado na hora e informações sacadas para o ferry de retorno. Vamos através da Moby e para voltar escolhi a Corsica Ferries (a Moby só trabalha para portos Italianos).
Estamos em Itália e o ferry está atrasado, cumprir horários não é fácil por estas paragens. Com quase uma hora de atraso lá embarcamos. O stress do costume para deixar a mota bem amarrada sem me lixarem o banco. A viagem é de apenas 4 horas.
Decidimos levar casacos para cima (para servir de colchão) e depois de petiscarmos soube muito bem dormir um bocadinho a sentir a brisa do mediterrâneo. Com a soneca pelo caminho parece que a viagem passou num instante.
Mas acabamos por chegar perto das 19h a Bastia. Do porto de Bastia ate St. Florent onde tinha decidido ficar foram 20kms de curvinhas.
Chegados ao camping previsto (Camping d’el Ozo), estava cheio e fomos recebidos de uma forma um pouco dura. Era tarde, percebi que iria ser dificil arranjar tempo para andar a saltitar em busca de alternativas. Percorro o camping a pé e la encontro um sitio fixe, mesmo à medida. Toca de montar arraial e fazer paparoca.
Temos por vizinhos um casal de meia idade suíços, mas que falam italiano entre eles. Muito simpáticos. Dao-nos as boas vindas.
Um dos pontos interessantes do campismo em viagem acaba por ser este, a convivência e partilha de experiências com pessoas de todas as nacionalidades. Uns dias mais à frente temos mais um exemplo disso. Mas cada coisa a seu tempo.
Antes de adormecer meto-me a olhar para o mapa da Córsega. Curioso que no mapa da Europa a ilha parece pequena, mas quando olho para o mapa da dita parece-me enorme e os dias apertados para ver tanta coisa. Após conferencia com a dona da tenda (eheheh) fica decidido que se o camping se mostrar capaz, a nível de infraestruturas e de condições de acolhimento iríamos montar base ali e partir para a exploração nos dias seguintes. Certo certo era deixar 2 ou 3 dias para não fazer nada a não ser praia. Ou seja, férias...
Dia 7 – 4ª feiraA noite foi tranquila, manhã cedo parto para explorar melhor o parque.
Chego a conclusão que estamos bem instalados, em zona calma com sombra quase todo o dia. As instalações são boas, tem piscina, super mercado, restaurante c take away.
Ficou “aprovado”.
Decidimos explorar o Cap Course que fica a norte de onde nos encontramos. As estradas são sinuosas e apertadas. Muita, mas mesmo muita curva, muitas delas cegas.
Estamos em zona de costa e de montanha e temos o mar sempre como companhia.
Como não sabíamos ao que íamos, e eventualmente parávamos para um mergulho, decidimos ir de calções e tshirt, embora com os equipamentos dentro das malas. La fomos andando, passamos varias praias de areia negra e calhau, pequenas aldeias com muitas casas abandonadas.
Um pormenor curioso, os cemitérios (se é que se pode chamar assim) são basicamente jazigos familiares que se espalham junto à estrada. Em cada povoação assistimos a este pormenor, alguns são autênticos palácios, outros completamente ao abandono, perdidos na vegetação.
Paramos numa aldeia que tem um mini mercado e compramos comidinha para o almoço. A fruta é deliciosa, algo que podemos comprovar durante toda a nossa estadia na ilha. A GS pede gasolina e abastecemos em Morsiglia num posto “familiar” junto a um café que o gere. Digo familiar porque quase não se dá pela maquina ao passar na estrada, tal a sua dimensão.
Um dos pontos que tinha marcado era Centuri, e o seu porto. Localidade muito pequena, alguma desilusão inicial, mas compensada pelo passeio junto ao porto (que fica 4km encosta abaixo). Aqui ainda andei a “brincar” com um ouriço do mar e aproveitamos para ter o primeiro contacto com a agua “quente” e transparente da Córsega.
De seguida apontamos para o topo do Cap Course. As estradas continuam apertadas, cheias de curvas e a paisagem rochosa e escarpada. Chegamos ao “topo”, da-mos uma vista de olhos em varias localidades e decidimos voltar a “descer”, com objectivo de encontrar sitio tranquilo para almoçar.
Acabamos por voltar pelo mesmo caminho a St Florent. Com o calor a apertar a vontade de ir para a praia torna-se insuportável. Nisto damo-nos conta que a opção de vestuário da manha ta a dar frutos não desejados, ou seja, ambos estamos com um valente escaldão nas pernas e braços.
Para facilitar as coisas, tinha visto em Portugal fotos de uma praia paradisíaca, tipo caraíbas, que não ficava muito longe se St. Florent. Decidimos ir até lá, mas como viemos a descubrir em primeira mão, esta praia tinha um acesso algo complicado.
Já tinha visto no GE em Portugal que o acesso era em algo tipo estradão, e que a distancia a percorrer seria algo tipo 12km (só ida).
Vi também no GE que existia um camping junto a praia. Portanto o acesso não pode ser mau, disse eu à Marisa (a ver se a acalmava). Lá dou com o cruzamento na nacional e ao olhar para a paisagem que me aguarda, penso para mim, é por causa disto que estou a ver que esta zona se chama “désert des agriates”. Só via calhau e vegetação rasteira, montanha com fartura. Do mar nem sinal.
Felizmente a minha GS já sabe o que são maus caminhos desde que nasceu, a Marisa também sabe o que são maus caminhos à minha pendura (ou não fosse o famoso treino para Marrocos que em 2009 o sr. Paulo Lança nos deu no Alentejo), portanto tudo na maior (ou não).
Fotos deste troço não hã tal era o stress.
Mal saímos da estrada temos uns valentes regos à nossa espera, a que se seguiu umas 4-5 poças de lama (nem quero saber o que era aquilo não cheirava la muito bem) daquelas que não dá para safar. Passados estes obstáculos começa o estradão (que de estradão não tinha nada), terreno muito rochoso, muita subida, muita descida isto por 12km... ritmo lento, mas em segurança. Lá no meio para ajudar à festa havia duas zonas de areia, a primeira em curva a segunda maior em recta ambas com cerca de 200-300m. (viva a comporta e o gasoduto pensei eu).
Com pequenos sustos pelo meio la se venceu todos os obstáculos sem nenhuma queda. No fim la estava o camping que tinha visto no GE (mas para la ir só de jipe ou de GS, eheheh).
A Marisa psicologicamente tava em baixo.
Paramos numa espécie de clareira, onde vários jipes estavam estacionados. Havia mais duas GS. Não víamos ninguém, só mato, carros e calor por todos os lados. Seriam aprox 14h.
Estava com as pernas completamente castanhas (e os pés totalmente pretos, lama e pó e areia tinham feito das suas). A Marisa la se safou da poeirada e da laminha. Ouvimos barulhos de crianças ao longe.
A praia não poderia estar longe. Penso para mim, é bom que esta praia valha bem o esforço. Fazemos-nos ao caminho desta vez a pé e aos poucos vamos começando a ver a praia.
Quando temos o cenário todo à frente parece que esquecemos tudo o resto, o cenário é das caraíbas, praia de areia branca, agua num azul cristalino, iates e veleiros.
A praia de Saleccia vale mesmo o esforço. A agua é quente e não apetece sair dali.
Lá ficamos a disfrutar do local sabendo que para sair dali teríamos de voltar pelo mesmo caminho por onde viemos (mas isso ja não interessava nada, né Marisa).
O caminho de volta já foi mais tranquilo. A Marisa vestiu o equipamento para ir mais à vontade, e como já sabia ao que ia fez-se tudo num instante.
Paramos na vila para comprar comida no supermercado para o jantar e seguimos para o camping. A GS parecia que tinha vindo da viagem de Marrocos.
Um dia de emoções fortes portanto, como viria a ser igualmente o dia a seguir...