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 (des)Aventuras em Africa 
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Aventureiro
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Mensagem (des)Aventuras em Africa
Corria o ano de 1992 e eu devorava tudo o que era revistas de motas e de automóveis, desejoso de aventuras, cheio de sonhos.
Na altura houve uma expedição que ficou na minha memória por ter corrido mal.
Á pouco tempo a arrumar umas revistas dei com os olhos nela, 18 anos depois, numa Motociclismo de 1992.
Quem se lembra? Certamente alguns, mas para os que não, aqui vai a transcrição da mesma, perdoem os erros mas o texto do José Ribeiro é longo.

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Afinal é verdade

Todas as descrições e histórias lidas através do tempo são verdade. Dos livros do Tintin aos da Guide Blue do Sahara. Guerrilheiros Tuaregs, bandidos armados e militares corruptos. Estas coisas não acontecem só aos outros! A nós aconteceu de tudo na expedição Lisboa-Luanda.

Ás 10h00 da manhã lá estávamos de novo na Torre de Belem. Distribuímos o material pelos jeeps dos amigos. Equipamento e roupas para um lado, comida para o outro, os pneus num terceiro jeep, as peças no UMM do chefe Villas Boas e os jerricans de água e gasolina impecavelmente arrumados no camião. Em alguns minutos tínhamos tudo despachado.
Começam as bocas “VI um palerma equipa do à Dakar na Marginal. Afinal eras tu” e “Oh Zê motard, então quando é que começas a cair?”, pequenos mimos que nos fazem sentir em casa. Seguem-se cinco dias de alcatrão, fronteiras e também desligar de tudo o que nos liga á civilização. O alcatrão da Transahariana cada vez pior, esburacado e com bancos de areia, a paisagem a mudar, o deserto a fazer a sua aparição e depois o primeiro acampamento.

FINALMENTE O DESERTO

A primeira pista, Forte Miribel (antigo posto da Legião Estrangeira) e eis-nos mergulhados no deserto e em tudo aquilo por que suspirávamos. Todos aqueles meses de planos e de treinos tinham, finalmente, razão de ser. Todas as nossas dúvidas iam agora ter resposta. Será a Suzuki DA 650 RSE a moto ideal? Já saberíamos trabalhar com o GPS? Há, no entanto, material que é indispensável como os pneus Michelin Desert capazes de fazerem 5 a 6 000 km nos piores terrenos sem um furo e sempre com óptima aderência assim como as cartas Michelin ou ainda as bússolas, saco-cama, lantemas, canivetes e todo o material coleccionado ao longo de anos de viagens.

E aí estávamos nas pistas, com todo o pó, trilhos de areia, armadilhas e buracos que nos fazem saltar e dar cangochas como se estivéssemos num rodeo. Para as motos o principal problema de uma expedição deste tipo é o de ter de acompanhar a coluna dos 4x4.
Percursos que durariam seis a sete horas de moto, em coluna podem facilmente demorar o dobro. São os carros que furam, que se atascam e que são mais lentos do que as motos, principalmente carregados com todo o material, algum deles e também o nosso...

Grande parte das pistas que fizemos na Argélia foram utilizadas nas primeiras edições do Paris-Dakar. razão pela qual estão pejadas de viaturas como os restos do Range Rover de fábrica de Patrick Zaniroli ou uma KTM de que só resta o quadro e as rodas, tudo sem ponta de ferrugem, devido à ausência de humidade do ar. Tudo isto a contrastar com os esqueletos dos camelos, estes mais bem integrados na paisagem do deserto.

Na pista que liga Chebaba a Hi Bel Guebour, somos apanhados por uma tempestade de areia. A visibilidade é quase nula e guiamo-nos pelas luzes vermelhas dos jeeps. Temos uma enorme dificuldade em avançar a baixa velocidade na areia. Com motos que pesam 150 a 200 kg, obstáculos que deviam ser vencidos em velocidade, são aqui penosamente ultrapassados a 40 km/h.

A areia entra por todos os lados, principalmente para dentro dos óculos que só abrimos por escassos segundos para ver o caminho. Em cada paragem procuramos uma alma caridosa que nos ponha “Visadron”. É durante a tempestade de areia que as motos mais uma vez ajudam a unir a coluna, ao ir lá atrás ver se está tudo bem, se falta algum cano, enfim, um trabalho de cão de pastor. As pinturas das motos ficam baças, os vidros e acrílicos picados como se tivessem ido ao jacto de areia. À noite, em Hi Bel Guebour, fazemos a revisão das motos dentro de um café rústico e convencemos o dono a deixar-nos dormir num pequeno estábulo onde há camelos e cabras. Na ausência dos camelos ocupamos o seu lugar!

O cheiro é insuportável mas não é isso que impede os motards e mais alguns “convidados” a dormirem como uns justos, o ressonar é tanto que mais parece que há uma XR 600 a trabalhar durante toda a noite!

É com as dificuldades que o grupo se começa a unir, a partir das 6h30m da manhã nas pistas (algumas vezes bem mais cedo) ou à noite no acampamento. O espírito de entreajuda vem ao de cima, para mudar uma roda, consertar uma viatura, fazer um jantar em comum ou simplesmente trocar uma cerveja por um sumo,

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“SERVICE DE FEMME”

É com a chegada a Tamanrasset que começam, para a caravana, as grandes dificuldades com as “autoridades”. Tamanrasset é o ponto de encontro de todos os aventureiros e expedições que atravessam o Sahara. Por isso mesmo a policia local aproveita para criar todos os problemas possíveis. Connosco o telefone por satélite foi o pretexto Com o atraso e o espalhafato provocados por ter de esperar dois dias pela autorização para seguirmos, foi ai que se começaram a criar condições para os assaltos que sofremos mais tarde.

Na fronteira de saída da Argélia, Tin Zaouaten, tivémos de novo problemas com o chefe do posto que exigia “service de femme” ou seja companhia para uma noite bem passada, mas como não conseguiu os seus intentos, complicou-nos a vida o mais que pode, atrasando-nos cerca de 12 horas. Com todos estes precalços houve mais do que tempo para nos prepararem todas as emboscadas em que caímos.
Primeiro foi um grupo de Tuaregs armados de Kalaschnikovs e granadas. bem preparados, que conduziram toda a operação com disciplina militar, levando 11 viaturas. No meio de tudo isto ainda houve tempo para algum humor. Um dos participantes, enquanto lhe levavam o jeep murmurou ao ver o guerrilheiro afastar-se “A que me dão cabo da embraiagem!”

No segundo ataque. em que nos levaram dinheiro, mais quatro viaturas e três motos, fomos assaltados por bandidos armados que, na minha opinião, fizeram o trabalho sujo para os primeiros assaltantes que reivindicaram internacionalmente o assalto, querendo por isso dar a imagem de Tuaregs que lutam por uma causa nobre, como é a sua e o seu desejo de reaverem os territórios ancestrais, hoje dividos pela Argélia, Mali, Niger. Chad e Burkina-Faso que reunidos ocupariam uma área equivalente à Europa Ocidental.

No terceiro assalto levaram mais um UMM mas, em troca, escoltaram-nos até perto de Kidal, primeiro posto de controlo do Mali. Uma espécie de Robin dos Bosques de Cheche!

Para nós, tudo se passou noutra dimensão como se estivessemos no cinema e nada fosse connosco. Na verdade, só tomámos consciência do perigo algumas horas depois. Inconsciência, ou defesa natural do organismo?

Em Kidal, apresentámo-nos aos militares, espantados por verem uma caravana dizimada a aparecer na pista onde há mais de dois anos não passava ninguém sem escolta militar. De Kidal seguimos em coluna militar por uma pista arenosa e massacrante até Anefis e daí para Gao com um aparato que incluia dois blindados do tipo chaimite. de fabrico soviético, e duas Toyota Pickup com metralhadoras pesadas e carregadas de tropas. Isto para escoltar o que restava da expedição: oito UMM, três motos e o camião Mercedes 6x6. pensado para transportar 10 pessoas, agora com 50, mais de vinte no tecto ao ar livre e sujeitos às queimaduras solares e à desidratação, para além do extremo desconforto. Só a calma e o companheirismo do grupo impediu que tivessem havido consequências mais graves e de ordem pessoal.

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REGRESSO FORÇADO

A partir de Gao continuaram por telefone as conversações com Lisboa que nos alertou para os perigos de continuarmos e que nos enviou um 1-lercules C 130 da Força Aérea para nos repatriar Com o C 130 foi o director do serviço consular de protecção cMI que nos aconselhou vivamente a regressar e que alertou para as situações de instabilidade nos países que iríamos atravessar Foi com a chegada a Gao que acabou verdadeiramente a expedição, embora alguns participantes tenham seguido até Bissau para daí poderem embarcar as viaturas.

Com estes acontecimentos e apesar de todas as situações passadas, penso que ficou em quase todos os participantes unia grande pena de não termos cumprido o objectivo de chegar a Luanda mas, também, uma grande vontade de voltar a África,

Uma referência importante para a nossa moto, uma Suzuki DR 650 ASE que teve um óptimo comportamento, totalmente fiável, sem o mais pequeno problema em cerca de 5 000 durissimos quilómetros. A revisão era Iimitada à lubrificação, limpeza do filtro de ar, verificação do óleo, de raios, porcas e parafusos, mas na verdade a moto nem se desapertou. O seu comportamento revelou-se excelente, principalmente em pistas de areia já que foi afinada de suspensões, agora bastante mais duras do que de origem.

Autor e Aventureiro José Ribeiro

O Camião em que acabaram por regressar a maioria dos participantes

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As 3 motas que foram poupadas

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Os primeiros passos da navegação com sistemas GPS de privados em Portugal

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Se não estiver no sitio correcto mudem este tópico, pf

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31 jul 2010 21:33 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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Serus Spielberg
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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Lembro-me de ouvir falar nisto, não tinha no entanto visto a reportagem.

Aquilo na altura era aventura á seria.

Obrigado pela partilha.

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".... a partir de agora é só estradões"
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01 ago 2010 00:21 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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IrOn bUTT
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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Grande aventura... o Cruiser que não leia isto que vem já dizer-nos que as nossas são uns charutos e a DR é que é :D :D :D

Excelente aventura, obrigado pela partilha!


02 ago 2010 08:25 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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PETER SNOW
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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Serôdio Escreveu:
Aquilo na altura era aventura á seria.


sem duvida!

uma aventura de uma vida!"

boa miglim! para malta mais nova como eu que nunca ouviu falar dessas aventuras é porreiro ver como era antigamente :okkk:

inte

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02 ago 2010 09:25 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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Ric Pastrana
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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Pedro Cabral Escreveu:
Grande aventura... o Cruiser que não leia isto que vem já dizer-nos que as nossas são uns charutos e a DR é que é :D :D :D

Excelente aventura, obrigado pela partilha!


Não é so o Cruiser...... :rlx:

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02 ago 2010 09:51 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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Aventureiro
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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Agora que vi isto já me lembrei, e continuo a dizer chegar a angola está ao alcance de qualquer um...de preferencia que tenha uma GS normal comprada num qualquer stand em segunda mão com mais de 30 000kms... :D

não quero dizer se as outras lá vão ou não, apenas falo daquilo que tenho conhecimento, motas boas há muitas :thumbsup:


02 ago 2010 14:56 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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Aventureiro
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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Ricardo Andrés Escreveu:

Não é so o Cruiser...... :rlx:



Pois não! :unibrow:

Uma aventura do caraças. Nos dias de hoje, tudo parece mais perto e mais fácil. Tanto que, até eu, vejo esta viagem como acessivel... esta report alimenta-me ainda mais o sonho. Para já, tenho uma DR650RSE, que é a mota de que se fala, e até tem um leitor de rooad book à epoca.

Falta-me só a pitada de aventureiro que é necessária. :)


06 ago 2010 09:12 { SHARE_ON_FACEBOOK } { SHARE_ON_TWITTER }
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Aventureiro

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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Pedro Cabral Escreveu:
Grande aventura... o Cruiser que não leia isto que vem já dizer-nos que as nossas são uns charutos e a DR é que é :D :D :D

Excelente aventura, obrigado pela partilha!


Pois é o Cruiser viu :)
Obrigado pela partilha deste relato dessa viagem! que odisseia! que verdadeira aventura! é muito bom ler esta crónica!
A DR que comprei tava imaculada com 37.000 kms reais e teve cerca de 7 meses encostada num stand sem ninguém lhe pegar, felizmente por ter andado a ler em fóruns como inicialmente os Nomads e depois no Advrider e no HU, onde falavam na sua fiabilidade e em ser juntamente com a kawasaki klr, a moto ideal para os desertos e para África, em boa hora a comprei, e na viagem que fiz a Marrocos confirmei bem o que diziam dela, ela voa na areia com uma facilidade incrível mesmo carregada com as malas de alumínio. E por estas razões ainda é vendida nova neste momento nos USA, Nova Zelândia e Australia.
Mas confesso a minha paixão pela Ktm 990 Adventure e pela 690 Enduro, e pela 400 exc, pena não caberem mais motas no meu lugar de garagem e as óbvias limitações financeiras.
Um abraço

_________________
felizes daqueles que na viagem chamada vida sonham e vivem os seus sonhos.


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Mensagem Re: (des)Aventuras em Africa
Cruiser Escreveu:
Pedro Cabral Escreveu:
Grande aventura... o Cruiser que não leia isto que vem já dizer-nos que as nossas são uns charutos e a DR é que é :D :D :D

Excelente aventura, obrigado pela partilha!


Pois é o Cruiser viu :)
Obrigado pela partilha deste relato dessa viagem! que odisseia! que verdadeira aventura! é muito bom ler esta crónica!
A DR que comprei tava imaculada com 37.000 kms reais e teve cerca de 7 meses encostada num stand sem ninguém lhe pegar, felizmente por ter andado a ler em fóruns como inicialmente os Nomads e depois no Advrider e no HU, onde falavam na sua fiabilidade e em ser juntamente com a kawasaki klr, a moto ideal para os desertos e para África, em boa hora a comprei, e na viagem que fiz a Marrocos confirmei bem o que diziam dela, ela voa na areia com uma facilidade incrível mesmo carregada com as malas de alumínio. E por estas razões ainda é vendida nova neste momento nos USA, Nova Zelândia e Australia.
Mas confesso a minha paixão pela Ktm 990 Adventure e pela 690 Enduro, e pela 400 exc, pena não caberem mais motas no meu lugar de garagem e as óbvias limitações financeiras.
Um abraço


Penso que a DR é sem duvida uma mota a toda a prova, pena a 690 Adventure demorar tanto tempo a sair.....

Mas nós e a nossa paixão é que tambem fazem as nossas motas serem boas, eu que semprei achei que com a Duke que tenho não me afastaria mais de 100kms de casa, já fiz o nosso Portugal de Faro até Bragança, nela, e sabem que cada vez gosto mais dela, apesar de alguns seus obvios defeitos, como a vibração, falta de sitio para bagagem... mas dá-me um prazer!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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