Grande crónica... me he reido un rato con o homem do martelo¡¡¡

Já teriam desaparecido, estas fotos foram umas horas depois. Com uma tempestade de areia pelo meio.
Foi um belo vôo do Agostinho
Valente, ainda faria dois dias de pista até Zagora, cheio de dores e chumbado em anti-inflamatórios!

Aquela marca na duna foi onde a moto caiu. O Agostinho aterrou, literalmente, após a duna, em chão duro Havia dunas muito traiçoeiras. Acabavam de forma muito abrupta e nem sempre dava tempo de reagir.

Neste dia tinha-se programado depois do pequeno almoço ir meter alguma gasolina e depois vir brincar para as dunas.
O Rui já estava a ressacar, aliás na noite anterior não resistiu em levar a mota para junto do quarto, como se pode ver nalgumas fotos.
Ele de manhã não perdeu tempo, foi logo para as dunas mas ficou logo atascado.
Há um video que mosta eu arrancar para ir ter com ele, para o desatascar. Depois de o ter ajudado, dei a volta a duna e já vinha para junto do hotel para irmos meter gasolina quando aconteceu.


O Rui tinha atascado na duna da direita lá mais ao fundo. Eu no regresso tentei passar a duna que se vê por traz dos dromedários, da direita para a esquerda, como a experiência é zero em dunas, acelerei para não atascar, mas como não atascou, pois era o lado duro da duna (onde bate o vento) a mota ganhou mais velocidade, sem que desse tempo para travar, dou por mim suspenso no ar (a pensar é desta que parto pescoço e vou para os anjinhos) e de seguida estou a aterrar no chão duro, mas que chão tão duro! A mota aterrou na poça que se vê na foto.

Esta foto foi tirada por volta das 17horas e acidente foi pelas 10horas da manhã, depois da tempestade ter acalmado, portanto acho que dá para ter uma ideia.
Penso que há uma foto do outro lado da duna.
Depois da queda, fui a pé até até ao quarto, tomei um banho e coloquei pomada na lateral direita (do ombro ao joelho) e tomei os comprimidos que tinha (analgésicos e anti-inflamatórios).
Felizmente, estava com LeattBrace e com colete, que foi o que me safou do pior. Ficaram as amolgadelas, as negras, as pisaduras e as dores, para recordar e curar.
Neste momento, as negras já passaram, agora faltam as pisaduras e as dores.

O Rui e Quintanilha, como deixaram de ouvir a mota "cantar" vieram ao meu encontro. Eu estava a recuperar do impacto e tentar levantar-me.
O Quintanilha, tentou levar a mota, mas não conseguiu, pois a direcção estava desalinhada. Mas o Rui não teve problemas em leva-la até ao quarto.
Estava eu a sair do banho, quando chega o Rui com um sorriso do tamanho do mundo a dizer: "Esta mota é um avião, até voa! Assim não custa andar nas dunas." e vira-se para mim: "Tu é que voas-te lá traz na duna! Foi praí 5 metros!".
Nos dias seguintes, sempre que podia alapava o cu na Branquinha.
Obrigado Rui por me levares a Branquinha nos locais mais difíceis.

Conclusão: nas dunas há que ter muito cuidado! Numa próxima, vou fazer reconhecimento a pé primeiro.

Por acaso também no Erg fui ajudá-lo a desatascar a mota, pelo menos uma vez.
O que, para alguém que nunca caiu, nem atascou, e ainda por cima andou o tempo todo a levantar e desatascar as motas dos outros, é obra, não é monsieur Rui?

Esta foto está brutal Hernâni

Mesmo, grande momento

O rapaz tem mesmo jeito para estas coisa!

Abraço Hernani

O marroquino tambem andou na tua mota?? O rear rack está lindo...

Amigos, estou a adorar este relato, e as fotos estão excelentes!

Tudo isto me faz recordar a minha primeira e única ida a Marrocos, em 2009,
que nunca mais esquecerei. Sei bem o que é essa sensação de rolar num horizonte
sem fim, que nenhuma foto alguma vez poderá mostrar, e se não ouvia música,
cantava e até dançava em cima da mota

Também descobri da pior forma que as dunas só são redondas de um lado,
mas se aí tive mais sorte, acabei por não me livrar do vôo de 5 metros,
este na zona raza onde de repente apareceu uma lomba. Várias nódoas negras
e um dente partido foram o resultado, valeu-me ir acompanhado do Dr. Cabral
e do seu magnífico kit de analgésicos que me acompanharam até ao fim...

Obrigado pela partilha, grande abraço

Este primeiro (e único) dia parados pressupunha-se de descanso mas acabou por ser bastante atribulado. Estas imprevisibilidades ao longo das viagens acabam até por saber bem desde que não hajam acidentes graves a registar. E lá nisso África supera tudo o resto: como diz o Gonçalo Cadilhe "África não se prevê, sente-se". Acabamos por sentir um pouco disso. Os planos acabam por sair algo ao lado. É preciso estarmos sempre a contar com esse desvio padrão.

No Erg aprendemos algumas coisas engraçadas.
Sabem onde existem mamas grandes em Marrocos? ... Nos dromedários Parece que são as únicas (também não admira. Muito provavelmente existem mais e muitas mas com aqueles lençóis as coisas tornam-se difíceis de deslumbrar).

Sempre que descobriam que éramos Portugueses lá vinha a ladainha de sempre: "queres queres não queres não queres". Andei um tempo a pensar na capacidade dos Portugueses em ensinar asneiras. Pensava que o correcto era "queres queres não queres P%&@s" como se diz por cá mas afinal era a tradução de um provérbio berber Lá se foi o meu orgulho Português

O primo do dono do hotel era um ser hilariante. Acrescentou ainda mais ansiedade à etapa que se seguia. Jurava que não conseguíamos fazer a pista de Merzouga até Zagora; porque era impossível fazer-la com aquelas motos grandes, porque nos íamos perder na pista, porque o GPS não iria funcionar, porque sem um 4x4 não dava, porque sem um guia conhecedor da pista não chegávamos ao destino, porque se nos acontecesse alguma coisa ninguém nos socorreria, etc. Uma série de "porquês" que aumentavam o nosso desconforto e ansiedade. Alguns de nós estavam com uma fé inabalável em que conseguíamos. Outros começaram a vacilar. Afinal tínhamos ido quase de propósito para sentir e fazer esta pista. Queríamos regressar com uma sensação de conquista; fazer algo desafiante. Ainda ponderamos que ele nos levasse as malas de 4x4 por estrada até ao hotel em Zagora. Mas como teimosos que somos, e porque isso castrava grande parte da aventura, não cedemos. Apostamos com o gajo que conseguíamos. E se assim fosse ele ia a Zagora pagar-nos o jantar no dia seguinte.

A principal preocupação era o estado do Agostinho no dia seguinte. Nada aqui que pudéssemos controlar. Era esperar pelo amanhecer e ver o seu estado e opinião. Mas ele é dos duros. Mesmo todo negro, cheio de dores e analgésicos não tirou aquele sorriso e nem por momentos esmoreceu a vontade de se fazer à pista. Agostinho, és grande

Nesse dia à noite fomos abastecer a Rissani as motos, preparamos tudo, controlamos a ansiedade e nervosismo, deitamos-nos tardíssimo e dormimos para começar uma nova aventura dentro da própria aventura.

A partida.




Afinal se estes gajos andam por aqui de mobilete porque é que nós não iríamos conseguir fazer 250km de pista em autonomia com motos muito melhores e bom equipamento Mais ou menos depressa descobrimos importantes diferenças

A pista começou bem. Apontamos sem grandes dificuldades a direcção que pretendíamos. Logo no início passaram por nós algumas motos (aka cabras ), moto 4 e uns jipes. Era um bom presságio. Aquilo não estava ao abandono total, pensei. Rolamos à vontade uns bons 5km até começarem aparecer as primeiras dificuldades de areia. Nos curtíssimos kms seguintes caímos na realidade que realmente não iria ser fácil a conquista. As malas laterais era um impedimento brutal a um bom andamento; aquelas típicas patadas no chão para equilibrar o já de si precário equilíbrio eram difíceis de executar porque muito rapidamente a perna ficava de baixo da mala o que podia resultar numa queda feia e dolorosa. Não imaginava que iríamos andar tanto tempo sem pista. Optei por levar pneus mistos e top-case. Confesso que foram duas escolhas geniais Não tenho muitas fotos do percurso. A vontade de pegar na máquina para fotografar tornou-se muito pouca. Aliás, a energia para pegar na máquina e fotografar é que era muito pouca Vou deixar que os meus amigos de viagem coloquem algumas fotos e vídeos e teçam alguns comentários à dureza.

Algumas fotos do telélé.

Confirma-se que os melhores pneus para offroad são mesmo os Tourance nem um furo, não traçam câmaras de ar, não empenam jantes e fazem desde pedra a fesh-fesh


Em Ramlia. Cheguei aqui algo desesperado e a roçar a loucura. Mas acabou por ser uma das minhas melhores noites em viagem de sempre.

O Guia turístico de El Ramilia. 22 anos e com uma experiência de vida nocturna à pendura do Varanda

A casa de banho comunitária.

E o final da pista.


Já vi fotografias deste jipe por cá.


Há um fosso tremendo de fotos. Vá, completem isto agora com a magia das GoPro

No primeiro dia de pista confesso que a GoPro andou quase sempre desligada, tal era a pressão
Vou meter aqui algumas fotos do Quintanilha, que ele me passou ainda em Marrocos. Não se deve importar

Ainda antes da pista, o susto do dia anterior:

grandes fotos que aki estao pessoal...mt bom mm...nao sabia dess acidente do agostinho...e infelizmente tb sei o que é uma queda dessas...tb fiz um desses voos na primeira vez que andei nas dunas e na queda tive luxação no braço mas lá o coloquei no sitio.

ainda bem que correu tudo bem, ponham la mais videos que esses é que estão a faltar

Já em pista, e depois da lenga-lenga derrotista do gajo do Hotel, a tentar vender os serviços de guia, chegou a vez dos miúdos nas mobiletes, a dizer que há um desvio ali, que a pista principal atravessa um rio com muito fesh-fesh, etc.
Andámos uns Kms com este miúdo atrás de nós, sempre a dizer-lhe que não precisávamos de guia, até ele finalmente ter problemas mecânicos e ir embora:






A partir daí começava A DOER:

Aqui suponho que foi uma das piores partes para o Hernâni, junto à "Cidade Perdida". Pelo que nos disse o Hmad, do Albergue, foi construída por portugueses, que 'fugiram por causa dos mosquitos'. Malária?!
Aqui a areia era muito fina, ainda por cima havia uma subida acentuada. E o "melhor" de tudo era a terrível e constante ventania que levantava pó e areia por todo o lado. Até respirar era difícil!
O Rui mandou-me a "posta", no dia a seguir e agora, a frio, até concordo. Enquanto o Hernâni se digladiava com a Transalp, o Rui ajudava e o Quintanilha fotografava , eu aproveitei uns minutinhos para me abrigar atrás das rochas, tirar o capacete e trincar uma barra de cereais com areia .










Após o meu primeiro furo (sim, furei 2 vezes o pneu da frente na mesma pista!), já ninguém tinha água, a gasolina estava a chegar ao fim, eram 16h30, finalmente chegámos a Remlia, onde pude, abrigado, trocar a câmara de ar, e então comer, beber, descansar....



Estes miúdos "assaltaram-nos" imediatamente, ainda nós vínhamos meios zonzos . Eu tentei negociar um colar por 10Dh, quando a miúda queria 20. Era uma criança, não teria mais de 5 anos. Ela finalmente aceitou e eu dei-lhe a moeda, e não quis o colar, sorrindo-lhe. Ela agradeceu muito.

Depois de comer, arranjar a roda, equipar e abastecer, fizemo-nos à pista, mesmo tendo sido aqui avisados que os próximos 5km eram infernais, com imenso fesh-fesh. De facto, não era nada fácil:





O Agostinho e o Rui nunca mais apareciam, eu estava com o Quintanilha e o Hernâni, e nem sequer se ouviam as motas. Eu e o Hernâni começámos a dirigir-nos para trás a pé, a ver os rastos para perceber se eles estariam com problemas ou se teriam virado em algum sítio. Já estávamos quase a chegar à aldeia, já se viam os palmeirais, e estava a anoitecer. Decidimos ir buscar as motas e voltar para a aldeia, começando a perceber que nos tínhamos perdido dos outros. Onde andariam eles? Será que iriam voltar também à aldeia e nos encontrávamos todos? Não havia rede de telemóvel...
Eis senão quando surge um rapaz numa mobilete, a dizer que a KTM estava sem bateria (o Agostinho deixou o GPS a mamar) e que eles nunca tinham arrancado do albergue. Ufa! Tudo ok, vamos voltar para trás, ficamos lá a dormir, tomamos um banho, jantamos, etc. Felicidade suprema!

Ao jantar, vieram-me oferecer um colar. O rapaz que mo entregou disse qualquer coisa em árabe. O Hmad traduziu: "É uma oferta das crianças da aldeia". Agradeci. Ok, aquela gente não tem nada, nós temos tudo e eles oferecem-me um colar.

O deserto testa-nos enquanto Homens. Nestas situações, os ânimos exaltam-se, há uma pontinha de medo, a adrenalina sobe. Tudo normal. É bom, porque aprendemos mais sobre nós mesmos.
Mas é também em situações destas que serve ter companheiros, é quando alguém sofre que dá realmente jeito ter um amigo, não é quando está tudo bem na segurança e conforto de um hotel.
É principalmente em situações destas, quando alguém desespera e entra em colapso, que os outros têm de manter a calma, trazê-lo à razão e ser optimistas. E nesse momento não interessa nada quem conduz melhor a mota, quem anda mais rápido ou quem cai menos vezes. Para mim, essa é uma das maiores belezas do deserto

À noite, antes de jantar, dois dos rapazes da aldeia foram comigo e com o Quintanilha fazer uma nocturna de 16Km, para subir ao alto de uma duna, o único sítio num raio de 30Km onde havia um bocadinho de cobertura de telemóvel, para darmos notícias para casa. Naquela terra não há TV, telefones, internet, rede eléctrica. Ali há pessoas, há o imenso deserto, e há o Silêncio, como nos mostrou o Hmad quando se desligou o gerador. "O problema do dinheiro é o ruído", dizia ele. Eu nunca mais me vou esquecer disso na vida.

Grande relato malta

Continuem, que estamos a adorar!

Quem me dera ter podido ir com vocês