Dia 2 – Tarifa – Marrakech – Ferry + 570kms

Acordei com as galinhas. A ansiedade apoderava-se de mim. Sai cedo e com o stress do horario do barco e da fronteira. Era a unica mota a embarcar aquela hora. Já no ferry o serviço melhorou desde 2009, para prender a mota havia uma protecção de espuma, o espaço interior era mais friendly. Mal entrei fui directo ao local para tratar do passaporte. Tinha apenas 3 pessoas à frente, demorei não mais do que 5 minutos a levar a carimbadela (já tinha os papeis todos preenchidos no dia anterior aquando da compra do bilhete). Instalei-me e lá fiz a travessia. O mar estava calmo. Aproveitei para fazer uma cabula do que tinha de preencher no documento de importação temporaria da moto, pois não tinha intenção de dar €€ aos gajos que se metem a jeito para ajudar. Assim fiz, sai do barco e fui nas calmas até ao portão limite. Parei a mota e simplesmente ignorei os chatos que me “ofereciam” ajuda. Fui ter com um sr. de azul e pedi-lhe o impresso triplicado. Preenchi conforme tinha na cabula e aguardei junto da mota. Entretanto um policia veio ter comigo, passei-lhe os docs da importação e fui à policia tratar da entrada. Voltei e o tal policia pediu-me para ver as malas da mota. Acedi tranquilamente. La me voltaram a dar os papeis da importação temporaria da mota e sai finalmente do porto. Devo ter demorado cerca de 30-40min. Segui o gps e parei na avenida principal para levantar Dh. Dai até à AE fui rolando tranquilo, forte presença policial nos cruzamentos e rotundas, com controle de velocidade por radares pistolinha. Fui sempre cumprindo os limites para não me chatearem, não tive qualquer problema com a policia durante toda a viagem. Desde a saida de Tanger até Marrakech fiz sempre AE, saíu-me a brincadeira em 113Dh. AE marroquina é sinonimo de muita atenção à estrada, deu para ver de tudo, paisagens bonitas, animais a passear/pastar junto à faixa (burros, ovelhas e vacas), pessoas a atravessar, carros a parar para deixar pessoas, radares e mais radares, policia e mais policia, carros a cair de maduros e ferraris ultimo modelo. De Casablanca até Marrekech apesar de estar em AE a paisagem circundante é fenomenal. Mais uma vez o tempo estava optimo, sol, temperatura agravavel. Fui directo ao Ibis Gare Centre onde tinha ficado da ultima vez. Deixei a mota cá fora ao lado de umas irmas francesas e logo o suposto guardian de las motos me veio chatear. Não lhe liguei. Entrei e aconteceu uma coisa insolita (ou não). Pediram-me 610Dh por APA. Como tinha andado a consultar os locais onde ia ficar lembrava-me que na net o preço era 200Dh mais barato. Comento isso com a sra da recepção, demonstrando que não estava satisfeito com o preço praticado, esta sugeriu que fizesse a reserva pela net ali mesmo, na sala de internet. Assim fiz e poupei 200Dh. Cheguei igualmente cedo a Marrakech, era 17h30. Deu para um banho, arrumar tralhas e rumar à praça Jemaa el Fna. Estava muita gente pelas ruas, a pé e de mota/carro. O trajecto desde o ibis faz-se tranquilamente. Quando cheguei à praça já era escuro e a confusão do costume estava instalada, so via pessoas por todo o lado. Lembro-me de ao atravessar a passadeira o fazer colado a um marroquino, tal era o caos no transito. Fui directo às tasquinhas de comida. Comi pastilla, cuscus de vegetais e salade marrocain, acompanhados de pão e uma cola (70Dh). Dei mais uma volta pela praça e voltei ao Ibis. Neste dia gastei 295Dh em gasolina.

Venham de lá os outros 9 dias...

8, assim sendo!

Ler o princípio deste relato a 7 horas da minha partida é engraçado

Vejo o resto quando voltar

Grande viagem.

Excelente!!!

Venha o resto

Atenção que eu estive em Tarifa na 3ª feira passada e os barcos estavam suspensos até hoje por causa do vento fortissimo de levante... confirma.

Muito bom...

Cheguei!

Dia 3 – Marrakech – Tahnaout – Imlil – Asni – Tizi ‘n’ Test – Talioine, aprox 320 kms

Voltei a acordar cedo. Arrumar tudo, tomar pequeno almoço e preparei-me para sair. A cidade ja fervilhava no seu transito habitual, la me orientei com o GPS e apontei a Tahnaout. Tinha ideia de fazer um caminho que tinha visto no mapa do Olaff e que basicamente ligava esta zona a Imlil, passado pela zona do parque nacional do Toubkal. Os primeiros kms em fora de estrada foram calmos, sempre a subir, com a paisagem a ficar cada vez mais interessante. O piso era bom, compacto. Até a Tadmamt não vi ninguem. Parei para comprar agua e pedi indicações sobre qual o rumo a seguir em direcção a Asni. Aqui apanhei um troço de estrada arranjada que seguia em direção a Asni. Ritmo muito lento, a apreciar a paisagem e as aldeias que fui apanhando. Antes de encontrar de novo a nacional, paro para tirar uma foto e vejo uma pista em direcção às montanhas com neve. Procuro no GPS e confirmo que vai dar a Imlil, apesar de dar uma volta grande. Pensei, bem se marca no GPS deve dar para passar e fiz-me ao caminho. Caminho rolante, com alguma pedra, subidas e descidas, passagem por algumas aldeias. Em muitas vi apenas crianças e animais. Quanto mais entrava para o meio das montanhas, mais dificil se tornava a pista e mais remotas se tornavam as pequenas aldeias perdidas nas montanhas. Lembro-me de passar locais sem energia electrica, com as mulheres a lavar junto ao rio, as crianças a fugirem assim que avistavam a moto. Com o andar questiono por onde raio me estou a enfiar. Em algumas partes a embraiagem da GS sofre um bocado. Outra coisa que me ficou na memoria neste trajecto foi que por mais remoto que fosse o sitio por onde passei sempre fui cumprimentando as pessoas e recebia o cumprimento de volta. As crianças olhavam para mim com espanto em vez de correremna minha direcção a pedirem bom-bom e stylo. A certa altura fiquei um pouco confuso do sitio onde estava e pedi indicações, fui ajudado a continuar e pouco depois estava a apanhar uma estrada que me parecia ter sido arranjada recentemente. Neste ponto essa mesma estrada continuava a subir para a esquerda e para a direita apontava em direcçao a Imlil, decidi ir ver até onde havia estrada boa, na tentativa de subir um pouco mais, mas pouco tempo depois estava a voltar para trás. Daqui até Imlil a estrada era boa. Passei por algumas pessoas a pé equipadas para caminhada/escalada, esta zona é conhecida pela ascenção ao pico do Toubkal e pelas actividades locais ligadas a esta actividade, nas aldeias veem-se pequenas lojas de equipamento e produtos relacionados com o tema. Continuo a descer e ao passar uma zona junto a um rio encontro um pequeno jardim com umas cadeiras. O cenario convidava a almoçar. Aqui comi uma omelete com chá marroquino por 20Dh. Soube bem. Apanho a nacional e vou finalemnte em direcção a Asni, seguindo estrada de montanha. Tinha como objectivo ir dormir a Talioine e para isso tinha de fazer um passo de montanha marcado no mapa como Tizi-N-Test. Estrada tipica montanha, curvas e mais curvas a subir e curvas e mais curvas a descer, nem sempre no melhor dos pisos. Demorei algum tempo a passar para o outro lado da montanha, onde a temperatura mudou. O bafo quente passava por aquelas paragens alem montanha. Segui calmamente até Talioine onde tinha a referencia de 3 sitios para ficar. Vindo de Norte tive que atravessar a localidade de uma ponta a outra pois o alojamento ta concentrado na parte sul. No primeiro local que parei pediram-me 300Dh por meia pensão. Tentei negociar mas o dono não estava prai virado. Despedi-me e atravessei a estrada pois exactamente em frente havia outro albergue (Albergue Askaoun). Aqui pediram-me exactamente pelas mesmas coisas 170Dh. Aceitei e instalei-me. Mota guardada na garagem, percebo que sou o unico hospede. O staff resume-se ao dono e dois rapazes. Acabo por pedir para usar o pc da recepçao, ao mesmo tempo que a minha tagine Kafta está a ser preparada. Janto na esplanada, está calor. O quarto aqui tem as condições minimas, mas está bastante aceitavel a nivel de higiene. Vou descansar cedo pois o dia tinha sido longo e estava moido. Gastei 173Dh em gasolina neste dia.




















Local do Almoço


Tizi - N - Test


Estrada para Talioine

Dia 4 - Talioine – Foum Zguid +- 178km

O pequeno almoço foi simpatico, sumo laranja, cafe, pão com manteiga e doce. Simples mas bom. Voltei ao centro para atestar de gasolina, incluindo o pequeno gerican de 5lt que levava preso a uma das malas, ao mexer no porta mapas parti o suporte, la tive de usar umas braçadeiras plasticas para prender o dito. Passei igualmente na farmacia pois esqueci-me do protector solar e estava verdadeiramente lagosta em metade da cara. 82Dh, upa upa, deduzo que não vendam protectores solares aos locais. O track de hoje vem descrito no livro Morroco Overland (do Cris Scott, mto boa leitura) como MA7, com a duração de 179kms e segundo o mesmo dava um pouco de trabalho para as big bikes. Confesso que no dia anterior pensei em não o fazer. Estava a solo e pensei em não me meter em trabalhos, de qualquer maneira não saberia até que ponto o “dar trabalho” para as big bikes descrito pelo Cris Scott se adaptava à minha experiencia com a GS.
Fiquei exactamente a saber o que o Cris queria dizer.
Os primeiros kms foram na nacional até Kourkonda. O dia estava de sol, as nuvens estavam dispersas e aquela luz matinal juntamente com a paisagem imensa convidavam a grande fotos. Parei varias vezes ainda na nacional para tirar umas quantas fotos. A temperatura era agradavel, 17/18ºC. Em Kourkonda virei em direcção a Issil e aqui começou a pista. A curto prazo até Issil deverá existir bom piso, pois as obras estão em curso. Optei por rolar ao lado da pista em execução, em caminho traçado pelos locais. Apanhei pela primeira vez alguns poços de fes fes, mas no geral a pista era boa, compacta, piso seco. A paisagem essa era seca, aqui e ali com zona verdes, normalmente pequenos aglomerados de casas, as montanhas vistas ao longe, cenario brutal. Fui rolando calmamente, tirando fotos, saboreando o momento. Começo a subir as montanhas após Issil e paro no topo para a ultima foto sobre a planicie de Issil. Já tinha visto fotos em foruns na net, mas estar ali a viver aquele momento, com a natureza a mostrar claramente que somos muito pequeninos é algo que vai ficar aqui registado por muitos e bons anos. Após este ponto o piso muda, o trajecto tambem. Estou em zona de montanha, curvas fechadas a descer e a subir, pedra e mais pedra. A velocidade é lenta, quero arriscar o menos possivel. Passo por uma ou outra casa e questiono-me como se sobrevive ali, sem agua aparente, sem electricidade e bem isolado da civilização proxima. Não vejo animais por perto. Nem todas as casas estão habitadas, mas ha algumas com claro sinal de presença humana. A certa altura decido parar no cimo de uma colina. Como umas barras cereais e bebo agua. Dou por momentos descanso à GS e ao meu corpo. Oiço motores algures. Pouco depois passam por mim cerca de 10 quads franceses, seguidos de jipe de apoio, naquilo que entendi ser uma expedição local. Perguntam se estou bem e seguem caminho. Deixo o pó assentar e faço-me de novo à pista. Continua a dureza da pedra e o ritmo lento, a subir e descer. A dado momento numa curva fechada à esquerda a subir, a traseira da GS encalha numa pedra e resalta, fazendo-me perder o equilibro e a inclinação da mota, pelo que foi inevitavel deixar tombar a GS. Preocupação imediata o estado da mala. A GS tombada para o interior da curva e rodas para o ar tornou-se um objecto impossivel de levantar por uma pessoa só. Apesar das inumeras tentativas não consegui levantar a mota. Pensei em varias coisas, inclusive situações que pessoalmente já tinha vivido aqui em Portugal, não era a primeira vez que não conseguia levantar sozinho uma mota. Tanto com a GS como com a KTM já tinha passado as passas do Algarve para as meter em pé. Optei por começar a tirar peso, tirei o recheio da mala que estava mais acessivel, assim como o saco que tinha em cima do banco. Mesmo assim não consegui levantar. Pensei em rodar a mota mas a mala que estava no chao iria sofrer com isso e eventualmente sofrer danos graves.
Estava a viajar em autonomia, tinha tenda, saco cama, colchao, fogao, comida, 3 lts de agua, pelo que a ideia de ficar ali bastante tempo não me assustou de inicio. Eventualmente se não conseguisse mesmo levantar a GS, teria de esperar por alguem, por voltar atras a pedir ajuda. Enquanto estou nas tentativas de levantar a mota, começo de novo a ouvir o som de motores. Decido aguardar e perceber do que se tratava. Então surge la em baixo uma mota, que de inicio me pareceu uma KTM, bem equipada e em bom ritmo. Julguei se tratar de mais uma expedição organizada localmente, com a malta que vem de fora a rolar descontraidamente com carro de apoio onde tras as tralhas. Ao se aproximar de mim faço sinal que preciso de ajuda e a moto abranda o ritmo. Percebo afinal que é uma Husqvarna, o frontal da mota com o numero e o autocolante do Dakar 2012, olho para o piloto e neste instante os meus olhos vêm escrito Paulo Gonçalves no neck brace. Só posso estar a sonhar. Ainda o Paulo estava de capacete enfiado e eu a dizer-lhe em bom portugues que estava longe de imaginar que seria ele a me ajudar naquela situação.
Ainda hoje enquanto escrevo e me lembro da situação pergunto que raio de estrela da sorte estive a olhar por mim. O Paulo lá me ajudou e em conjunto metemos a mota em pé. Andei um pouco com ela para a tirar do caminho e depois ficamos a conversa. Nisto aparece o companheiro do Paulo, o Espanhol Joan Barreda Bort, que junto com ele estavam em Marrocos no primeiro dia de treinos. Agradeci ao Paulo, trocamos contactos para o caso de haver mais azar, e lá seguiram eles o seu caminho. Das palavras do Paulo ficam-me na memoria o “grande espirito” que ele dizia eu ter por andar ali sozinho com uma mota daquele tamanho. (um grande abraço Paulo, foste uma ajuda preciosa e obg pelas experiencias e preocupações partilhadas).
Volto a meter tudo nas malas, a GS partiu um pisca e a mala esquerda esta com uns toques e foi um pouco para dentro, mas bem melhor do que eu tava a espera. Um pouco de fita americana e fico com um pisca novo. Retomo energias com umas barras de cereais e agua. A confiança por mais parva e pequena que seja a queda vai-se embora num instante após estes momentos e os kms seguintes (segundo o Joan B. Bort ainda tinha 20km deste piso pela frente) foram feitos de muita insegurança e a passo de caracol. Tentei desanuviar ao maximo, parando para tirar fotos e apreciar a paisagem. O ultimo stress foi ter de circular dentro de um Oued Seco, cheio de calhau rolado, que logo após foi dar a um palmeiral onde pude descansar uma boa ½ hora à sombra. A travessia do palmeiral foi engraçada, nunca o tinha feito, o caminho é cheio de labirintos e apenas me orientei pelo track do GPS. Enquanto parei foram aparecendo miudos vindos da escola. Assim como nas aldeias do parque Toubkal tambem aqui nenhum deles me pediu nada. Limitaram-se a olhar para mim, para a mota, para as bandeiras nas malas e a falar baixinho uns com os outros. Quis fazer um ponto de situação, perceber onde estava e se a pista mais dura já tinha terminado. Olho para o mapa e cruzando com o GPS não consigo perceber onde estou. Viro-me para a criançada mas ninguem percebe o meu frances. Por gestos tento perguntar onde estou. Silencio, até que um miudo la diz um nome repetidamente. Amtazguine. Olho para o mapa e lá encontro. Vou ao livro do Cris Scott e percebo que o caminho para a frente é mais suave. Suspiro de alivio, arrumo as coisas, digo adeus aos miudos e volto para a pista. Daqui até à R111 rolo em pista estilo estradão compacto, já com os niveis de confiança de novo em alta rolo descontraido, paro para tirar fotos e olhar a paisagem imensa. As rectas são enormes. Lá apanho a estrada boa e o caminho até Foum Zguid faz-se tranquilamente. Eram 14h e estava mesmo a apetecer almoçar. Atravesso Foum Zguid de uma ponta a outra para ver o que haveria, quer em termos de alojamento como de comida. Volto para tras e paro na praça principal. Aponto ao cafe/restaurante chegaga e negoceio o almoço. Brochetes de frango, com azeitonas, pão, batatas fritas, salada marroquina e cola (60Dh). Soube-me divinalmente. Apesar de ser hora de almoço e depois do estalo que levei sentia-me cansado. Olho para o mapa e decido parar por ali. Vou à procura de local para ficar e fico no primeiro sitio que encontro. Albergue Iriki (180Dh, meia pensão). Instalo-me, cravo o portatil ao dono do albergue, que me oferece um chá. Passo o resto do dia a não fazer grande coisa, escolho o jantar (tagine frango com legumes, sobremesa). Vou dormir mais cedo que o habitual pois o corpo amassado do esforço do dia deixou mazelas.Neste dia gastei 154Dh em gasolina.


Planicie Issil






Inicio das montanhas




Joan B. Bort


Paulo Gonçalves




Continuação da pista




Amtazguine




A seguir a Amtazguine














Almoço Cafe/Restaurante Chegaga - Foum Zguid


Vista de Foum Zguid do Albergue Iriki

Faz-me tanto mal ver isto

Se tu que lá estive à pouco tempo, estás assim...
Imagina como me sinto!

Grande viagem, Ricardo!
continua, estou a começar a ressac...

Muito bom, já conhecia algumas das peripécias mas estou a adorar o relato!

q saudades ...

Sentimentos inesqueciveis aqueles que se vivem numa viagem a solo.
Eu em 2009 também fui sózinho até ás areias do deserto, ver o pôr e nascer do sol e é uma viagem que nunca esquecerei.
Continua, estou a adorar o relato e as fotos 5*****.

Dia 5 – Foum Zguid – Zagora – Ouarzazate +-295kms

Acordei meio empenado do dia anterior. Ombros e braços meio doridos . Pequeno almoço simples no Albergue Iriki, aproveitei para fazer umas sandocas pra viagem. Para este dia tinha planeado fazer a pista MS5 do Morocco Overland. Havia uma palavra que estava sempre presente na escrita no Cris Scott. Stony. O inicio da pista era terreno compacto, a pista tinha sido arranjada e era agora algo tipo estradão. Dos 130km até Zagora diria que apenas 35% tem o piso conforme vem descrito no livro. Até chegar a esta zona andei sem problemas, parei diversas vezes, tirei fotos à imensidão da paisagem que tinha ao meu redor. Vi alguns animais e tendas nomadas espalhadas pela paisagem, sempre afastadas da pista. O tempo estava esquisito, um misto de vento com nuvens. Não estava muito calor, dava para rolar confortavel. Ao acabar a zona tipo estradão a pista torna-se realmente stony, com altos e baixos, algumas rectas, mas a velocidade neste troço foi significativamente baixa. Os braços estavam cansados e não estava para grandes aventuras. Quase no final deste troço do nada aparece-me um cão a ladrar, ia no meu mundo e apanhei um susto do caraças, daqueles de ficar com o coração na boca. Mais tarde soube que há varios animais destes a actuar em matilha e ha reports de ataques. Alguns kms antes da povoação de Bou-Rbia a pista volta de novo ao modo estradão. Aqui ao entrar para a pista encontrei um rapaz novo com dois burros. Parei e imediatamente o moço me pediu agua. Andava com agua racionada mas ainda tinha uma garrafa a mais e perguntei-lhe como era a pista até Zagora. Respondeu-me que era igual à zona onde estava. Sai da mota, abri a mala e dei-lhe a garrafa extra que tinha. O rapaz bebeu imediatamente como se não visse agua ha dias. Quis-me devolver a garrafa mas disse-lhe para ficar com ela e com o resto da agua, e lá seguiu o seu caminho com os burritos. Fiquei um pouco a pensar no sucedido e voltei a andar. Sensivelmente 5kms a frente voltei a encontrar 4 miudos no meio do nada e novamente me pediram agua, sendo que desta vez tive de dizer que não tinha. Fiquei de rastos perante tal situação. Os kms a seguir foram pesados. Fiquei triste comigo proprio e angustiado pela situação ocorrida. Até aqui não tinha sentido a pressão de ninguem me pedir nada, apesar de ver com os meus olhos que há muitas necessidades nas pessoas com que me cruzei (em 2009 no Atlas as crianças pareciam robots a pedir bon-bons, stylos e Dh, situação que tinha lido relatos de coisas verdadeiramente preocupantes inclusive de acidentes entre miudos e viajantes). Pedirem-me um bem de primeira necessidade e não o poder dar vai ficar marcado na minha memória.
A pista até Zagora manteve-se boa, aqui e ali já se via uma dunazita à beira da estrada. O vento começou a levantar e ao longe via mta areia no ar. A entrada em Zagora foi pelo conhecido painel Tombouctou 52 jours. Parei a GS para uma foto e de imediato me cairam em cima os homens de azul. No plano inicial tinha pensado ficar ali, mas tinha algumas duvidas exactamente por este tipo de pressão. Ainda não era hora de almoço, tinha demorado 3horas a fazer os 130kms de pista, enfiei o capacete disse bye bye ao chato do gajo que me queria vender meio mundo e pisguei-me rumo a Ouarzazate. De zagora não fiquei com grande vontade de lá voltar, contudo a viagem até Ouarzazate acompanhando o vale do Draa, é algo especial pela paisagem. No meio do caminho parei para almoçar uma bela de uma omelete berbere, com azeitonas, pão e o tipico chazinho (50Dh) e ainda tive a comer umas laranjas juntamente com o dono do espaço quando começou a chover e tive de me abrigar. Gostei bastante do sitio do almoço, o pessoal foi simpatico e o espaço era acolhedor. Deixei a chuva passar e voltei à estrada, de Agdz para cima a N9 entra em modo estrada de montanha com gargantas escavadas na rocha que fazem um grande impacto visual. O tempo estava a piorar e quase a chegar a Ouarzazate apanho uma molha, por preguiça nao parei para tirar o impermeavel, deu para tirar o pó. Tinha planeado ficar no Dar Rita em Ouarzazate, ja tinha trocado mensagens com a Rita e iria saber bem falar portugues depois de uns dias fora dessa realidade. O Dar Rita fica num bairro antigo de Ouarzazate (Tassoumaat), tinha o ponto de GPS marcado e após dar com um opel corsa de matricula portuguesa tinha a certeza que estava no sitio certo. Imediatamente fico rodeado de miudos. Gastei neste dia 147Dh de Gasolina.
















N9


Almoço

Dia 6 Ouarzazate – Dar Rita

A Rita tinha ido passear a cadela Jana pelo que fiquei à sua espera rodeado de miudos curiosos com a mota e comigo. Faziam-me perguntas desde de onde era até se gostava mais do Ronaldo ou do Messi. De fora, no meio daquele bairro ninguem diz que está ali uma casa como a que encontrei. A GS ficou parada à porta o tempo que ali fiquei, sem que lhe tenha acontecido nada, pelo que me apercebi a Rita tratou com o vizinho que morava ali para ele olhar pela mota. Nesse dia fui muito bem recebido, num espaço onde a atenção ao pormenor foi tida em conta, com uma decoração bastante interessante para quem gosta deste tipo de coisas (como é o meu caso). Ofereceram-me um chá para aquecer e fui-me instalar. Começou a trovejar e a chover granizo, situação inédita para mim em Marrocos. Lá acalmou a coisa e aproveitei para fazer backup das fotos da minha maquina e da gopro, pro caso de acontecer alguma coisa e perder o que já tinha registado. O jantar foi uma pequena surpresa e sem duvida a melhor refeição até agora nesta viagem. A comida estava excelente e como era o unico hospede nesta noite deu para estar na conversa e saber como é para um portugues viver em Marrocos, como é a cultura Marroquina e os problemas e desafios do dia-a-dia e também as oportunidades actuais no país. A comida estava excelente, entradas, sopa marroquina (Harira) versão com tomate e finalmente tagine de almondegas de sardinha!!! Não cheguei lá tal não era o sabor maravilhoso dos temperos. Do jantar ficou-me na memoria a expressão “muslim light” quando falavamos dos habitos religiosos dos marroquinos, o que revela bem algumas tendencias relativamente aos paises vizinhos mais conservadores. Foi um final de dia 5*, e dormi que nem um calhau.

Com o cansaço acumulado nos ombros e o conforto de uma casa portuguesa decidi ficar um dia parado em Ouarzazate.
O pequeno almoço no Dar Rita foi outra surpresa, parecia que era feito pra 3 ou 4 pessoas, não comi nem 20% do que me foi colocado à frente. Tudo o que provei estava excelente. Fui dar uma volta a pé pela cidade e voltei ao Dar Rita, senti-me bem na cidade, ninguem me incomodou nem senti qualquer tipo de pressão, andei à vontade. Foi um dia para recuperar energias. O balanço destes dias em Ouarzazate foi altamente positivo. O Dar Rita sai um pouco do orçamento que em geral é sempre muito apertado, mas pela hospitalidade e simpatia que nos oferecem vale bem a pena. Cada noite ficou-me por 500Dh, meia pensão. Voltarei sem duvida nenhuma.






Bairro de Tassoumaat


A Rita e Eu


Dar Rita


Dar Rita Terraço

Dia 7 Ouarzazate – Merzouga +- 365kms

O dia amanheceu muito escuro e com chuva constante. Preparei as coisas para partir e vesti o impermeavel. Tinha planeado ir para o Atlas mas com o evoluir do estado do tempo resolvi mudar de objectivo assim que passei Boulmame Dades e chovia forte. Apontar a Merzouga era agora o objectivo onde tinha visto que supostamente estaria melhor tempo. Era pelo menos essa a previsão, a realidade foi outra coisa. Tinha a referência dada pela Rita de ficar no Auberge du Sud, localizado junto às dunas na pista quem vem de Erfoud. Decidi-me por esta alternativa, apesar de mais dispendiosa (400Dh, meia pensão) porque o local onde fiquei da ultima vez ter aumentou os preços e diminuiu a qualidade. Quase não parei neste dia, apenas para meter gasolina, segui em ritmo moderado e sempre sempre com chuva. Apesar do mau tempo estava a gostar de fazer kms na GS, a estrada já a conhecia da viagem de 2009. Ainda esbocei uma tentativa de tirar o impermeavel em Erfoud, mas voltei a vesti-lo em Rissani pois a chuva não acalmou. Segui as indicações para apanhar a pista e 8km depois estou no Albergue. E chove no deserto. Mais uma imagem diferente para levar para casa. Sou recebido em portugues e até ajuda tenho para levar as malas da mota até ao quarto. O Aubergue du sud tem uma localização fantastica, mesmo em cima das dunas, e a nivel de qualidade das instalações está acima da média. Pena a chuva não dar para disfrutar da piscina e da envolvente. O jantar foi igualmente muito bom, acho que acabei por não comer tudo o que me meteram à frente. Harira, carne vaca, cuscus vegetais, frango, sobremesa.... Nesta zona não tenho rede de telemovel e uso o spot para mandar msg que está tudo bem. Gastei neste dia 145Dh em gasolina.


Vista do meu quarto no Auberge du sud


GS no estacionamento do Auberge du Sud