De vez em quando a malta concretiza o desejo que se vai alimentando durante alguns meses de ir por canadas até ao Nordeste (+-100 km). E foi o que aconteceu no passado dia 16 de Janeiro.
O grupo foi crescendo ao longo da semana à medida que se foi delineando o percurso e difundido-o pelas redes sociais. Para muitos ir ao Nordeste não custa nada, mas vão ou sentados num carro, protegidos do frio, vento e chuva, ou vão em motas mais propícias a longos trajectos e pela estrada corrente, mas no nosso caso... bem, é muito diferente. A única protecção que temos das condições metrológicas é o que trazemos vestido, ao fim de uma centena de kms o assento já parece pedra ou deixamo-lo de o sentir, pura e simplesmente!! As mãos, dedos e os pés com sorte mantêm-se fieis à vontade do cérebro e não, não vamos por estradas correntes, aliás isso é precisamente o que queremos evitar. Em jeito de conclusão, só vai quem gosta mesmo disso, quem estiver na dúvida é melhor ficar em casa ou fazer outra coisa qualquer, porque se não só vai atrapalhar e tornar o seu passeio e o dos outros num martírio. Mas conhecendo eu a malta não haveria qualquer problema em dizer "meu amigo, o melhor é voltares para trás, porque para sacrifício já basta o que cada um pena!!!"
O ponto de encontro para todos seria nas Furnas pelas 08:30 mais coisa menos coisa. A vontade de todos era tanta que ninguém se atrasou
... Uns partiram cá de baixo de Ponta Delgada (a 45 km) já na sua mota, outros levaram as suas em carrinhas ou atrelados até ao ponto de encontro e outros passaram o fim-de-semana nessa freguesia ou em casas particulares ou no Hotel. Eu fui dos que partiu cá de baixo e juntei-me a mais 5 numa garagem de um colega nosso. Para estar nas Furnas à hora combinada, já dá para ver a que horas tocou o despertador... às 06:15!! Num Domingo!! Mas deu para acordar com um sorriso nos lábios e cheio de vontade para sair de casa... grande maluco, pensei eu de mim mesmo
Todos bem equipados e com as mochilas carregadas com água, ferramentas, óleo de 2T e spray anti-furos (que de vez em quando funciona) iniciámos a viagem deveria ser umas 07:15. Noite escura, mas com excelentes previsões para o tempo que íamos encontrar. O percurso até às Furnas foi acessível, lama, água, um pasto ou outro, uma descida mais ou menos acentuada e uns rails de protecção que tiveram de ser transpostos. O amanhecer foi fantástico, a Lagoa do Fogo estava descoberta e aos poucos foi-se mostrando enquanto o sol ao fundo se erguia e a nossa descida para as Furnas não poderia ter sido melhor, uma vez que o cenário estava deslumbrante... enquanto nós tínhamos uma visão perfeita do que nos rodeava, a freguesia lá em baixo acordava coberta com uma neblina, não viámos casas, só um manto branco
Chegados ao ponto de encontro os restantes já começavam a dar sinal ora por telemóvel, ora pelas suas carrinhas e atrelados ainda carregados com as suas motas, ora pelo barulho assim que ligavam-nas. A 2ª parte do passeio estava prestes a começar.
Reforço do pequeno almoço, reagrupamento e siga!
O grupo agora estava completo, os últimos cumprimentos foram dados, os bocejos finais também, mas os sorrisos mantiveram-se durante largos kms!
Um nosso colega mais afoito encabeçou o grupo e lá fomos nós para o que nos levou até aquelas paragens. Trilhos, canadas, lama, entreajuda, histórias e bons momentos para contar até à Vila do Nordeste. O ritmo foi rolante, havendo poucas paragens, daí a falta de fotos para mais tarde recordar (o mesmo se passou de PDL até às Furnas). Onde o ritmo desacelerou, aliás parou mesmo, foi num local que não faço a mínima ideia onde era, mas onde já tinha passado alguns meses antes. As constantes chuvadas fez estragos pela ilha toda e deparamo-nos várias vezes com troncos pelo chão, vegetação densa só transponível com as motas às costas, literalmente. Felizmente braços era o que não faltava para ajudar a essa árdua tarefa.
Primeiras àrvores...ainda passava-se em cima das motas
Uma derrocada. Não nos fez voltar para trás!!
"Andas ou não andas!!"
Estas já estão.. faltam 9!!
A tracção por vezes não existia
"Isse tá linde!!"
Árvore nº5
Durante este percurso a vegetação estava tão densa que não se consegui ver mota nenhuma. Para saber se estavam todos contava-se as cabeças!
"Trás a catana!!"
1,2,3...
...4,5,...
Este trilho deixou de existir mais à frente. A solução encontrada foi o de descer a mata por entre as árvores até encontrar o caminho que se encontrava umas dezenas de metros mais a baixo.
Felizmente deu resultado. A teoria estava certa!!
Seguimos por mais uns trilhos, mas já se fazia tarde e o corpo e mota precisavam de ser reabastecidos. Apesar de ser Domingo lá encontrámos uma gasolineira de serviço.
Este foi o meu 2º reabastecimento, o 1º tinha sido aquando da nossa chegada às Furnas.
A partir de aqui fizemos a Tronqueira (recomendo) onde o meu travão traseiro pregou-me um susto
. Devido à temperatura e à sujidade que não tinha reparado ele deixou de funcionar, felizmente foi algo que detectei a tempo de não sofrer nenhuma mazela, uma vez que não deixou de funcionar de um momento para o outro, foi gradualmente perdendo pressão até deixar de fazer qualquer coisa, ou seja, travar. Com o tempo e umas ribeiras lá arrefeceu e voltou a trabalhar correctamente, mas a minha confiança na sua eficácia nunca mais foi a mesma.
Foi um passeio para recordar. Excelente companhia, fisicamente árduo, um dia de sol mas fresco... muito bom! É daqueles que ficará para sempre marcado na nossa memória...pelo menos enquanto a tivermos. Pode não ter sido um passeio grande, mas cá na ilha 3 tanques de gasosa será sempre o máximo que poderemos fazer e, por isso, dada esta escala foi um enorme passeio.