CONTINUAÇÃO5 de Outubro: Tarifa (Espanha) - Midelt (Marrocos)O dia 5 de Outubro era o grande dia da travessia de ferry para Marrocos.
O grupo acordou bem disposto e cheio de entusiasmo, prontos para partir à descoberta dos cantinhos deste grande país do norte de África.
Em território africano esperava-nos um itinerário que nos levaria de Tarifa a Midelt, com passagem por algumas pequenas localidades e 2 cidades muito conhecidas, Chefchaouen e Ifrane.
Estávamos a falar em mais de 500 kms.
Contudo, já saímos do hotel um pouco mais atrasados do que o previsto, mas tendo em conta a informação que tínhamos, apanhar o ferry não seria um problema, pelo menos assim pensamos. A ideia era apanhar o ferry das 9 horas…
Ora aqui está o nosso táxi marítimo, da FRS:
O caminho até ao porto de embarque de Tarifa revelou-nos um traçado muito agradável, e que deve fazer as delícias dos Motociclistas locais, com umas belíssimas curvas.
Melhor do que as curvas são as vistas, com Marrocos (penso eu) a rasgar tímidamente as nuvens ainda baixas. Um bonito cenário!
Chegada ao porto de Tarifa, ainda antes das 9:00, mas, para nossa surpresa, fomos informados de que o barco já estava completo :-(
Ainda tentamos persuadir a deixar-nos embarcar, mas não havia hipótese, estava mesmo lotado. Restava o ferry das 11:00.
De facto, a lotação fazia todo o sentido, porque afinal de contas tratava-se de pleno fim-de-semana, com muitos turistas e habitantes de Marrocos a quererem viajar. Um pormenor que não pensamos, mas que também não era grave, apesar de significar um atraso considerável para os mais de 500 kms que tínhamos pela frente.
Mas não valia a pena pensar mais no assunto, bora lá comprar o bilhete!
Venha lá as 11:00!!!
Apesar do sucedido, a moral estava em alta:
Com a compra do bilhete de ferry, vieram mais alguns documentos cujo preenchimento era necessário. Nada de muito complicado, apenas um documento a solicitar informação básica, como nome, profissão, país, entre outros. Um documento que juntamente com o passaporte e documento de importação temporária do veículo (D16 TER) iam ser necessário na Alfândega à chegada e saída de Marrocos.
O Miranda ficou fã do Camelbak:
Açores on tour:
Chegada às 11:00, era tempo de dar início ao nosso embarque. Uma confusão organizada de veículos, quer turistas, quer habitantes de Marrocos:
Sempre bem dispostos:
A partir do momento que iniciamos o embarque, começam os processos burocráticos, essencialmente resumidos ao bilhete de embarque e passaporte. O processo foi mais breve do que o esperado.
O nosso ferry ainda estava a desembarcar passageiros e veículos:
No entanto, o desembarque é um processo relativamente rápido, e em pouco tempo já estávamos a entrar dentro do barco e, uma vez mais, bilhete e passaporte para fora.
A malta da FRS já está tão habituada a estas andanças, que o processo de embarque é rápido, ou seja, ao entrarmos no ferry surgem logo funcionários a indicar-nos o local das motas e eles mesmos tratam de prender as motas com cintas.
Mas convém estar presente no processo de colocar as cintas, especialmente para lhes relembrar para colocar alguma espécie de protecção no assento, como um cartão, caso contrário pode danificar o mesmo.
Já no barco, e um pouco mais calmos, iniciamos de imediato outro processo burocrático, o carimbar do passaporte para entrada em Marrocos:
O aconselhável é tratar logo de início, de forma a termos uma viagem mais relaxada e sem preocupações. Uma vez mais, achei este processo relativamente rápido.
Já cheira a Marrocos:
Tempo para respirar fundo, tirar algumas fotos, relaxar e controlar um pouco a crescente adrenalina de querer explorar Marrocos.
Marrocos é de imediato visível no horizonte, o entusiasmo volta a disparar:
O Vítor aproveitando para descansar um pouco:
Anima-te companheiro!
Durante a viagem tivemos uma agradável coincidência e encontro, o João Freitas Casaca estava igualmente de viagem para Marrocos :-)
Foi mesmo muito bom voltar a rever este amigo, que tive o prazer de conhecer pessoalmente na N2 em 2011.
Além de entusiasta por Marrocos, também nutre uma paixão pelas motas laranja.
Abaixo a foto junto da sua belíssima 690:
E passados alguns minutos, já estávamos a atracar na costa de Marrocos, mais concretamente em Tanger.
Estava na hora de sair do barco e respirar aventura.
Contudo, uma coisa é desembarcar, outra coisa é passar do porto de desembarque. Por outras palavras, era necessário passar por mais alguns procedimentos burocráticos obrigatórios.
Não era nada de especial, numa 1ª fase mostrar passaporte e o Doc. import. Temp. ao Polícia, depois ir à Alfândega, voltar a mostrar os mesmos documentos, receber um carimbo num dos documentos e já está.
A burocracia em Marrocos é simples, mas convém ter em mente algumas coisas, de forma a escapar a um possível processo demorado e mais complicado. Estou a falar de alguns indivíduos que por lá andam, sem farda, alguns com uma suposta identificação e que nos pedem os documentos. O segredo é não entregar nada e ir de imediato ao encontro da Polícia, devidamente identificados de farda azul. Após passarmos por este e nos entregarem os documentos, é seguir para a Alfândega.
Os outros sem farda são os chamados ajudantes da Polícia, que estão por lá a tentar ganhar algum dinheiro, mas acabam por atrasar todo o processo e causam algum desconforto. Evitá-los sempre que possível!!!
Tivemos sorte, talvez por termos seguido o grupo do João Casaca, já experientes nestas andanças por Marrocos. Sabíamos a teoria, mas segui-los tornou tudo mais fácil.
Todos a quererem entrar em Marrocos:
Para nossa satisfação, não demorou muito até autorizarem a saída das motas, mesmo antes doa automóveis. Furamos o trânsito e, finalmente, estávamos em Marrocos, livres para darmos início à nossa viagem :-)
Mas antes de iniciarmos o itinerário do dia, tratamos de levantar através do multibanco dinheiro local, ou seja, Dirham. Muito importante, porque nem todos em Marrocos aceitam euros, ou temos a possibilidade de pagar por via electrónica, o Dirham é que fala mais alto.
No nosso caso, e para começo de conversa, foram 2.000 Dirhams, que equivale a 200 euros.
E lá começamos finalmente a nossa viagem, debaixo de um clima muito quente, sem nenhum objectivo para Tanger, a não ser escapar do terrível trânsito que esta cidade possui.
Não demorou muito até vermos as senhoras com as Burcas:
Tanger é uma cidade super movimentada, com um tráfego muito activo, diria mesmo louco. Foi aqui que verificamos de imediato que tínhamos que esquecer todas as regras europeias de condução, e limitarmo-nos a tentar fluir pelas ruas o melhor possível. Claro que há sempre regras básicas que respeitamos, como os semáforos, mas passadeiras, stop, circulação em rotundas, linhas contínuas, entre outras, eram apenas em teoria, praticamente ninguém as respeita e quem o faz, arrisca-se a ser cilindrado.
Aprendemos rápido e é como diz o ditado, em Roma sê Romano.
Não nos agradava muito, mas era um mal necessário para que tudo corresse bem.
Outro aspecto imediatamente perceptível são fortes contrastes, ou seja, ora vemos sinais típicos de pobreza, ora vemos sinais típicos de riqueza, como um concessionário de marcas premium em Tanger:
Por esta altura, já começava a lembrar-me de muitas outras histórias que me contaram de Marrocos, sendo apenas uma questão de tempo até nos deparar-mos com exemplos idênticos. Marrocos é mesmo rico em coisas que estamos pouco habituados a encontrar na Europa.
Após escaparmos a cidade, iniciamos a nossa descida por Marrocos, tomando algumas estradas nacionais e regionais.
Desde logo verificamos que, mesmo em vias mais fluídas, os Marroquinos nem sempre conduzem da forma mais correcta ou segura, sendo necessário ter algumas cautelas, como por exemplo, fazer curvas o mais dentro da nossa faixa possível. Além disso, o asfalto em algumas zonas não é o melhor, encontrando-se, por vezes, muito gasto, com um ar polido, quase vidrado. Nestes casos, a aderência é precária, especialmente a curvar.
Uma vez mais, estávamos a aprender rapidamente, mas, estranhamente, todos estes aspectos revelavam-se interessantes e com alguma mística, talvez por causa das histórias de outros viajantes.
Apesar de todos estes aspectos curiosos, havia algo que me incomodava acerca da minha mota desde a nossa travessia de Tanger, tinha reparado que o vaso de expansão do líquido refrigerante enchia até ao máximo e estava a vazar pelo respirador.
Bem, isto garantidamente que não era normal, porque apesar de estarmos perante um clima quente, não havia razão para tal, especialmente porque a minha mota tinha sido alvo de uma revisão profunda. Para evitar danos, e tentar perceber o que se passava, paramos para o motor arrefecer.
O Miranda já estava mais de acordo com os habitantes locais.
O motor à medida que arrefecia, ia puxando de volta o líquido refrigerante, só que como tinha sido expulso algum pelo respirador, foi necessário repor.
Até a este momento, não tínhamos encontrado nada de anormal. Seria um falso alarme ou susto? Bem, só mesmo continuando para verificar.
Chegada a Chefchaouen, cidade das famosas e típicas casas em tons de azul:
Infelizmente, pelo caminho o vaso de expansão voltou a apresentar os mesmos sintomas, o que nos deixou preocupados.
Havia a possibilidade de sangrarmos/purgarmos o sistema de refrigeração, porque poderia ser ar no circuito a causar este encher anormal do vaso e consequente perda de líquida, por expulsão pelo respirador.
Mas antes da operação de mecânica, procuramos um local para almoçarmos.
Infelizmente, o local aonde fomos já tinha fechado a cozinha, deixando-nos com um sabor amargo na boca.
Mas na falta de paciência para procurar outro, e tendo em conta que tínhamos uma pequena operação de manutenção pela frente, almoçamos mesmo na estrada, aproveitando alguns mantimentos que tínhamos.
Alguns gajos são mesmo esquisitos para comer, e até têm que descalçar as botas para tal:
Um bonito enquadramento:
Com o estômago já satisfeito, e com o motor mãos arrefecido, iniciamos o processo de sangramento/purga da minha LC8. Um processo rápido e simples, e que deu algumas indicações de que poderia haver ar no circuito. Mas só mesmo um posterior teste ia confirmar este facto. Até lá, estava um pouco apreensivo e a sentir-me um entrave à progressão da viagem.
Mas as viagens de mota são assim, podem surgir imprevistos…
Bem, continuamos a seguir em frente, não havendo hipótese de explorar Chefchaouen, devido ao tempo perdido com a perda do ferry das 9:00 e com a manutenção da minha mota. Para Midelt faltavam muitos kms, e queríamos evitar navegar à noite.
Abaixo aguns exemplos daquilo que podemos encontrar nas estradas em Marrocos, ou seja, desde carrinhas a circularem de porta aberta e camiões carregados além daquilo que é racional e seguro. Estamos em Marrocos!
Outra peripécia da viagem deste dia, numa pequena localidade o amigo Vítor atropelou uma galinha, que hesitou ao atravessar a estrada. Um atropelamento involuntário e que nos deixou um pouco preocupados, mas que não deixou de ter um lado cómico para mim, porque ficou no ar um monte de penas, as quais tive de atravessar. Uma cena mesmo típica de filme cómico.
Chasing shadows:
O dia estava a ser longo e com muitos kms, mas tinha de ser, porque o objectivo final era Midelt, onde a partir daí se daria início à parte mais interessante da viagem que tínhamos planeado.
Após alguns bons kms de teste, verifiquei que o vaso de expansão da minha LC8 nunca mais deu sinais de anomalias, tendo o nível do líquido estabilizado, ou seja, enchia o normal com o aquecimento, e descia o normal com o arrefecer, ficando entre o MIN e o MAX, tal como indica o manual.
Perante isto, o alívio foi total, porque podia continuar a viagem sem preocupar-me com este aspecto.
De salientar que as restantes motas estavam ok e sem quaisquer anomalias.
O sol já começava a esconder-se no horizonte:
Riding till sunset:
Tempo para esticar as penas, verter águas, entre outros aspectos necessários:
Midelt ainda estava longe, mas a hora do jantar já estava bem próxima, pelo que achamos por bem procurar na próxima cidade um local para jantar.
Não sei precisar a localidade, mas foi antes de Ifrane, talvez Saïss, que paramos para reabastecer e jantar. Mas nesta pequena localidade jantar não foi tarefa fácil, porque alguns dos locais que tentamos já não tinham comida para vender :-(
Mas até nem andamos muito até encontrarmos à beira da estrada um pequeno restaurante com frangos a assar num forno. Foi mesmo parar logo ali, porque não sabíamos se mais à frente haveriam mais oportunidades.
Este frango veio mesmo a calhar e a saber que nem ginjas:
Para acompanhar a bebida oficial de Marrocos, a Coca Cola:
Um aparte, desde o 1º momento que achei a Coca Cola em Marrocos mais forte em gás que a europeia. Até gostei mais.
Já satisfeitos com o jantar, continuamos a viagem noite dentro, mas um pequeno erro de navegação levou-nos pelo caminho mais longo, acrescentando cerca de 50 kms ao trajecto.
Tivemos algumas indicações de um local:
Infelizmente, a nossa passagem por Ifrane aconteceu em plena noite e já tarde, o que foi uma pena. Ainda assim, deu para perceber porque é que chamam Ifrande de Suíça Marroquina, ou seja, trata-se de uma cidade com aspecto organizado, limpa, com casas de muito bom aspecto, cujos telhados lembram as casas na Suíça, automóveis de gama alta a circular nas ruas, trânsito a fluir ordeiramente, entre outros aspectos.
Em suma, parecia uma cidade europeia, além de ser notório que é uma cidade mais rica e onde devem habitar pessoas mais abastadas de Marrocos.
Uma paragem meramente para descansar, antes da tirada final até Midelt.
Xiiii…, que sono:
A última parte da viagem até Midelt foi um pouco difícil, talvez penosa, porque o cansaço já se fazia sentir e já começávamos a ter alguma dificuldade em mantermo-nos concentrados na estrada, ou mesmo acordados.
Foi necessário arranjar estratégias para despertar, como cantar, abrir a viseira a apanhar vento na cara, andar de pé na mota, entra outas. Estava mesmo muito complicado.
A última parte da estrada foi uma descida de montanha, que parecia não ter fim, mas que curiosamente até deu para despertar um pouco, apesar da enorme escuridão que nos envolvia. Nesta estrada não havia qualquer iluminação além das que as nossas motas emanavam. Todo o cuidado era pouco.
Mas com muito esforço e alguma ajuda divina, lá chegamos a Midelt, e ao hotel Kasbah Asmaa:
Um típico hotel Kasbah, de aspecto mesmo à Marrocos e a tornar esta dura viagem do dia altamente recompensante.
Ainda por cima fomos autorizados a estacionar as motas no interior do mesmo :-)
Neste hotel tivemos uma surpresa agradável, a segunda deste dia, reencontramos mais um amigo, o Carlos Mouro, que conheci aquando do WTC Açores 2012.
Este amigo, também ele de férias e de mota, fez questão de ficar acordado e esperar por nós, e ainda proporcionou alguns bons minutos de conversa, sempre com as motas como tema principal, e como nós gostamos.
Obrigado Carlos pela amabilidade de esperares por nós.
E tempo de relaxar, descansar e dormir, porque o dia tinha sido muito longo e cansativo.
E assim terminamos este nosso 1º dia por Marrocos.
Foi um dia de sentimentos variados, se por um lado houve o entusiasmo e adrenalina de entrarmos finalmente em Marrocos, por outro lado houve a preocupação e pessimismo com a anomalia da minha mota.
Todavia, ultrapassada a anomalia, voltou o entusiasmo, o espanto e curiosidade de tudo o que nos deparamos na estrada, e que inconscientemente absorvemos, e, finalmente, o cansaço de um longo dia de viagem, recompensado com o reencontro de um amigo.
Impressionante como um dia pode gerar os mais variados sentimentos, assim como tornar-se inesquecível.
Resumindo, Marrocos estava a ser apaixonante e o grupo estava ávido por mais :-)
O dia seguinte esperava-nos uma viagem até Merzouga, terra da areia, do deserto, do Erg Chebbi, do Dakar e dos horizontes sem fim.
CONTINUABoas Curvas!