CONTINUAÇÃO7 de Outubro: Merzouga / Erg ChebbiDepois de 3 dias de mutos kms e muito cansaço, o dia 7 de Outubro era considerado o dia de descanso da viagem, dado que este dia seria passado em Merzouga.
Além disso, seria uma dia inteiramente dedicado a esta localidade, ou não estivéssemos num dos locais mais importantes e míticos de toda a viagem e de Marrocos. Era aqui que iríamos tomar contacto com o deserto, ou melhor dizendo, com o Erg Chebbi, também conhecido como Dunas de Merzouga.
O deserto faz parte do imaginário de qualquer “adventure rider“, seja em termos de viagem ou mesmo de competição, onde é muito fácil lembrar-nos de imagens vindas do Dakar, com pilotos e máquinas a mostrarem uma destreza assinalável nas dunas do deserto do Saara.
Estávamos lá, era obrigatório ver e sentir o deserto, ponto final! :-)
No dia antes, e assim que chagamos ao hotel, fomos abordado por um simpático funcionário, o Aziz, que se encarregou de nos dar alguns conselhos para a nossa estadia. Um desses conselhos foi um tour de jipe pelo deserto, onde nas 3 horas de duração do mesmo, iam mostra-nos tudo o que interessava ver no deserto.
Jantamos sob o assunto, e após uma breve conversa de grupo achamos que seria melhor optar por esta voltinha de jipe, porque assim veríamos tudo o que interessava, sem perda de tempo e directamente aos locais certos. Além disso, evitávamos andar às voltas para encontrar os locais, evitávamos perder-nos, não perdíamos tempo desnecessário e, em última análise, evitávamos chatices.
Em suma, foi uma decisão acertada, a qual comprovamos ao longo do tour.
De manhã já tínhamos o nosso guia e jipe prontos para a nossa excursão pelo deserto.
De manhã, o Kasbah Le Touareg reveleva uma beleza bem maior que a mostrada aquando da nossa chegada à noite:
Assim que partimos, não demorou nada até o nosso guia entrar em percursos fora de estrada e em direcção ao deserto:
Muito boa disposição no grupo, ao som de música típica de Marrocos a “bombar” no jipe
Após uma breve viagem por fora de estrada, e sempre com o deserto em paralelo, crescia a nossa expectativa em aventurar-nos pelo deserto. Mas antes da areia, realizamos uma paragem na aldeia dos Pigeons Du Sable, onde não sabíamos bem o que nos esperava.
Entramos numa típica moradia dos Pigeons Du Sable, onde todo o ambiente era tradicional e muito agradável:
Depressa chegaram mais grupos de turistas e apercebemo-nos que os Pigeons Du Sable iriam tocar e dançar música tradicional, a Gnawa.
Os Pigeons Du Sable são os chamados escravos de Marrocos e possuem um tom de pele mais escura em relação aos restantes marroquinos que tivemos contacto.
A sua música e dança foram um momento muito agradável, interessante e enriquecedor, que valeu bem a pena.
Uma das belezas de viajar é isto mesmo, tomar contacto com a cultura e tradições dos outros. Abre-nos a mente e enriquece-nos.
O engraçado foi que o público que estava a assistir foi convidado a participar na música e na dança. Eu e o Vítor não recusamos o convite e participamos com muito agrado.
E tal como manda os hábitos locais, foi servido um belíssimo chá de menta, ou como dizem os locais, o whisky Berbere :-)
Podem estar a pensar que numa terra de tanto calor, o chá quente não faz sentido, mas não, este whisky Berbere sabe sempre tão bem, que é difícil resistir a uma segunda rodada :-)
Após este momento de grande riqueza cultural, a nossa volta de jipe começou a entrar em alguns percursos arenosos, começando a adrenalina e entusiasmo a subir.
Mais uma pequena paragem para contemplação de toda a beleza desta vasta área do Erg Chebbi:
Acreditem, Marrocos é de uma grandeza e vastidão impressionantes:
Estes tour de jipes apesar de nos levarem aos locais que interessam, também fazem paragens comerciais, ou seja, param exactamente onde se encontram vendedores de algo. Neste caso, vendedores de cordões, pulseiras e outras coisas típicas de Marrocos, alguns deles construídos na típica rocha local.
Acabamos por comprar algo para as nossas senhoras, que bem merecem, nem que seja pela paciência em aturar estas nossas loucuras de mota ;-)
Claro que aqui, assim como em muitos locais de Marrocos, as compras são feitas com base na negociação e no regateio. Não é que me agrade muito, mas se não entrarmos neste jogo, esfolam-nos a carteira. Com um pouco de paciência, é possível comprar o que desejamos a um valor consideravelmente mais baixo em relação ao pedido inicialmente.
De volta ao jipe, continuamos a penetrar no coração desta enorme vastidão que nos rodeava, sempre sem saber ao certo o que nos esperava. Confiávamos no nosso guia, especialmente quando olhou para nós e disse-nos de forma segura, convincente e apontando para a cabeça com o dedo indicador: “GPS”!
Estava visto que o homem orientava-se com à vontade no deserto.
Nesta paragem visitamos um dos locais onde alguns homens extraem pedras. Não sei se serão pedras preciosas, mas seguramente pareceram-me pedras onde constroem muitos artefactos para vender aos turistas.
Aqui também tentaram vender-nos algo, mas bastou o nosso guia referir algo como “ils sont avec le moto“, para torcerem o nariz e desistirem de insistir numa venda.
O que nos fez impressão foi verificar que haviam alguns buracos no solo, nos quais encontravam-se alguns indivíduos à procura das ditas pedras.
Os buracos eram bem profundos e nãos os víamos:
Mesmo no nosso horizonte uma aldeia abandonada:
Uma tenda de povos Nómadas:
Outra paragem também muito interessante foi a uma família que habita no deserto, que penso ser designada de Berbere.
Vivem em condições mínimas e muito longe de todas as comodidades que nós consideramos necessárias, e sobrevivem no meio desta imensidão desértica.
Notável as capacidades do ser humano!
As crianças eram um pouco reservadas, o que é compreensível. Além disso, apenas falam berbere, o que torna a nossa tentativa de comunicar um pouco mais limitada.
Mas a senhora que lá estava, apesar de ter pouco, teve a simpatia de nos servir mais um belíssimo chá, ou se preferirem, whisky Berbere:
Este chá soube mesmo muito bem!!!
Aliás, sabia sempre, independentemente da altura do dia.
Mais uma prova de que o povo marroquino sabe receber e é de fácil trato. Esqueçam lá aquelas ideias que veiculam de violência, fundamentalismo, entre outras, porque simplesmente não sentimos ou verificamos isso.
É preciso despir-nos de certos preconceitos e ter uma mente aberta, porque senão não fará sentido.
Voltando ao jipe, o nosso guia começou a procurar trajectos pela areia e sempre muito seguro de si. Em algumas zonas mais abertas entusiasmou-se mais um pouco e fez o Toyota voar baixinho em alguns estradões. Um momento de pura adrenalina!
A subida de algumas dunas era sempre um momento a seguir com atenção, porque estávamos sempre à espera de algum possível atascanso. Mas não, o homem já conhecia muito bem a areia do deserto, e sabia muito bem quais as dunas que estavam ao alcance do jipe e qual o tipo de tracção a usar. Ainda assim, era um espectáculo ouvir do rosnar do motor através do snorkel que se encontrava do meu lado.
Paragem em plena areia, numa zona cuja cor da areia quase que faz os nossos olhos confundirem-se:
O gangue da areia:
A foto com o nosso guia a pronunciar “inshallah“, que significa se deus quiser, isto é, se deus quiser voltaremos a Marrocos e ao deserto:
E uma mensagem vinda das areias do deserto para as mulheres da minha vida, a Carla e a Mafalda:
Uma coisa que reparamos no nosso passeio pelo deserto foi que o piso varia muito, ou seja, ora a reia está dura e perfeitamente transitável, ora fica mole e solta, colocando o jipe a deslizar de um lado para o outro, como se estivesse a “dançar”.
Nas zonas de fesh-fesh isto era notório e dava que pensar, ou seja, imaginávamos nós de mota (Maxi-Trail) naquele piso, a tentar manter o equilíbrio e a avançar no terreno. Seria uma odisseia e um show de tombos.
Aquando da marcação deste tour de jipe, foi oferecida a possibilidade de realizarmos o mesmo de mota, ou seja, seguindo o jipe. Mas em boa hora não optamos por esta via, caso contrário haveriam certas zonas que iriam ser o cabo das tormentas. Não era impossíveis, mas apenas estão ao alcance de Motociclistas experientes em pisos arenosos, e não para leigos como nós. Além disso, seria mais acessível se estivéssemos com motas de Enduro, penso eu de que…
Realmente, os pilotos do Dakar são de outro mundo.
Mais um spot fotográfico:
De volta ao hotel, a sensação de satisfação com o tour de jipe reinava no grupo. Afinal valeu muito a pena optar por esta via, porque vimos o que interessava ver, de forma directa e sem perdas de tempo. Além disso, tivemos o bónus de contactar com os povos locais e com a sua cultura, enriquecendo este passeio.
Outro aspecto importante foi o deserto, ou seja, notamos que é muito fácil perdermo-nos no deserto, porque existem zonas onde tudo parece igual e onde é fácil perdermos sentido de orientação. O deserto pode significar beleza e espectacularidade, mas também pode tornar-se num pesadelo caso estejamos perdidos.
Foi uma opção racional e segura, sem dúvida!
E após tanta areia e calor, um banho de piscina veio mesmo a calhar:
Sabe tão bem estar de papo para o ar e não fazer nada.
Almoço!!!
A vista do Kasbah Le Touareg era realmente a desejada e bem de acordo com as nossas pretensões aventureiras:
No entanto, vir a Marrocos e não realizar uma voltinha na areia com as nossas motas, é como ir a Roma e não ver o Papa.
Por conseguinte, após algumas horas de repouso achamos por bem ir até ao deserto experimentar a areia com as nossas motas. A ideia não era a de nos aventurarmos pelo deserto, mas sim escolher um grupo de dunas e areia, e ali realizar algumas voltas e fotos, e satisfazer a nossa curiosidade em experimentar conduzir as nossas motas na areia.
Poderá parecer estranho, mas em São Miguel apenas temos pisos arenosos nas praias, sendo proibido a circulação de veículos motorizados. Portanto, a curiosidade era muita e a experiência era quase nula.
Encontrar as dunas e areia era uma situação fácil de atingir, porque as mesmas estão a poucos metros do hotel.
Assim que chagamos ao local escolhido, apoderou-se de mim (e talvez dos restantes) um misto de curiosidade, entusiasmo e receio, porque tanto queria andar na areia, como também me vinha à memória cenas do Dakar que correm mal, como o afundar da roda dianteira, seguido de voo pela frente da mota. Atascar não me preocupava, preocupava-me sim a possibilidade de algum de nós poder magoar-se.
Mas não valia a pena pensar muito no assunto, era seguir em frente com alguma cautela e tentar divertir-me.
O Miranda foi o 1º a deitar-se:
Olha, afinal não é assim tão mau cair na areia:
O Vítor a contemplar a beleza inconfundível do deserto:
O Francisco andava à luta com a areia, fruto de um pouco de menos convicção com o acelerador:
Mas lá consegui fazer a sua laranjinha subir a areia:
Bem, andar na areia de mota é uma grande diversão e muito interessante. o receio inicial rapidamente dá lugar a muito entusiasmo e adrenalina, especialmente quando a mota ganha alguma velocidade.
O segredo era enrolar o acelerador, andar de pé, chegar o corpo para trás e deixar a mota fluir na areia. Se formos com pouca convicção, rapidamente atasca de frente.
Adorei poder experimentar a areia e ver o que vale a LC8 neste ambiente, porque afinal de contas foi aqui que nasceu. O resultado foi muito positivo e surpreendente, porque a LC8 está mesmo muito à vontade e devora a areia. Tenhamos nós à vontade, convicção e alguma dose de loucura, que esta mota voa baixinho.
O legado do Fabrizio Meoni está aqui, uma mota africana e feita para isto.
Atenção, a Ténéré do Vítor também safou-se muito bem. A mota tem garra e também defendeu toda a herança que o nome Ténéré carrega e representa.
Mas nem tudo são rosas, conduzir estas motas em areia também requer físico e técnica, porque caso contrário tomba-se com muita facilidade:
O grupo todo adorou a areia, mas reconheceu também que é exigente fisicamente. Uma vez mais, lembramo-nos das capacidades dos pilotos do Dakar, que muitas vezes andam a fundo neste ambiente.
Para nós amadores, sabe sempre bem uma pausa para kit kat:
Vamos lá tirar uma foto de grupo?
Sim, claro, enterramos um pouco a roda traseira, de forma a que a mota se equilibre.
A ideia era boa, mas há gajos que gostam mesmo de levar mais além uma simples ideia:
Muito bem Sr. Miranda, bem enterradinha. A tua sorte é que tens mais 3 caramelos para ajudar-te a desenterrar a mota :-)
Tão lindas que ficaram:
E a foto de grupo:
Bora la suar um pouco:
Eat my dust!!!
Após uns bons minutos de diversão, já havia algum cansaço e sensação de missão cumprida. Além disso, não valia a pena estarmos a forçar mais voltas quando o corpo já sentia algum cansaço. Mais valia a pena parar e regressar, do que insistir e regressar com alguém lesionado.
Mas, definitivamente, ficou o bichinho do deserto e a vontade de regressar a este ambiente, possivelmente com mais tempo. Ficamos apaixonados!
Depois de um dia longo e pelo deserto, um bom jantar sabe sempre muito bem:
Estes amigos andam um pouco por todo o lado:
Outros tentavam passar despercebidos:
E com este jantar e mais 2 dedos de conversa, estava terminado mais um dia em Marrocos.
Este dia que passamos em Merzouga melhor não podia ser!
O passeio pelo deserto revelou um Marrocos mais profundo, mais tradicional e mais aventureiro. O deserto por aqui é o palco principal e convida-nos a visitá-lo, como de uma tentação se tratasse.
É viciante, vasto e de uma beleza muito específica, mas cuja orientação não está ao alcance dos menos experientes.
Poder levar a mota à areia e às dunas foi, sem dúvida, um objectivo concretizado e um sonho realizado. Não é todos os dias que podemos passar dos sonhos à realidade, e poder dizer em voz alta eu estive lá e a minha mota andou na areia.
É um momento único, em que tudo quase que passa em câmera lenta.
Enfim, o Erg Chebbi é apaixonante e mágico, e este foi um dos momentos altos da viagem que para sempre iremos lembrar e contar com orgulho.
Marrocos estava a ser tudo o que queríamos e esperávamos.
O dia seguinte reservava-nos uma viagem até Tinghenir, onde haviam muitos motivos de interesse.
CONTINUABoas Curvas!