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Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
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Gamito
Aventureiro
Registado: 29 dez 2010 19:50 Mensagens: 1031 Localização: Povoa de Varzim
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
SÁBADO I (EDITADO EM 16-11-15)
DRAVE. O nome é enigmático, curto, de fácil memoria, ao mesmo tempo, crú, em bruto, como a própria terra, um amanhado de lajedo xistoso, ora rugoso, ora polido dos anos, dos pés descalços, das rodas das carretas, dos rebanhos de cabras, do tempo… O meu amigo Zé Manel, um transmontano alto e espadaúdo, do mais ligeiro que há pelas serranias deste mundo, falou-me da aldeia mágica há um par de meses, enquanto degustávamos um tinto à boleia d´um queijo de Azeitão e olhávamos umas cartas de Somiedo - aquelas coisas que um alentejano e um transmontano gostam de fazer num fim de tarde. Disse-me maravilhas da grandeza do lugar. Fiquei com a coisa na cabeça. Aqui à atrasado o Merencio, lançou a ideia e a empresa fez-se. Drave é um lugar na Serra de São Macário, ainda no distrito de Aveiro, a uns 20 km para NNW de S. Pedro do Sul e uns 15 Km para SE de Arouca; faz parte do apelidado Geoparque de Arouca e alcança-se por trilho pedestre pela rota PR 14 a partir da Aldeia de Regoufe que se “desenvolveu” mais pela extracção de volfrâmio feita pela Companhia Inglesa durante a II guerra. Especula-se o que terá passado na cabeça dos homens, para terem encarreirado direito àquele fundo de vale de três águas, de mui difícil acesso. Uns dizem que terá começado com ladrões de gado que ali se acoitaram. Não me espanta – recordo-me de umas leituras de Aquilino Ribeiro “ A ilustre casa de Romarigães “, onde descrevia uma viagem de morgados pelas serranias aqui do Norte, em que foi tentado um assalto por um grupo de saltimbancos ao jeito do zé do telhado – pois essa malandragem teria de ter abrigo quando a guarda régia lhes dava caça. Outra hipótese é a beleza do local ter atraído umas gentes de Regoufe e outras vizinhanças, entre os mais enquistados e procriadores “ Os Martins” que dominaram a terra e dela se fizeram donos, como testemunha o solar dos mesmos, onde em 1946 o Padre de Carvalhais promoveu um encontro de Martins da Drave, tendo reunido 600 almas, tresmalhadas por esse mundo aos caprichos da diáspora, pois aquele fundo de vale não acareava sustento para tanta boca. À meia dúzia de anos ainda por lá andava um casal de Martins ermitas. Pelo menos em 1993, uns parentes carnais de São Pedro do Sul foram mecenas de uma linha telefonica até ao desteterro. Os dias que antecedem estas aventuras deixam-me sempre ansioso. Nunca se sabe o que pode acontecer e a chegada noturna à cabana de Cinfães ainda me estava marcada. Mota vista e revista, ferramenta, ração, roupagem, camping, e sei lá que mais, como já sabemos, uma tralha infinita, que se feita de véspera, come três horas à cama. Na quinta estava tudo tratado. Acordei às 7, às 8 estava em água Longa. Pensei ser o primeiro. Que nada, já lá estavam o anfitirão, três de Braga, e vieram mais três, sendo que dali partimos oito. Foi um encontro de de moços, que não se viam há muito. Saíram os cumprimentos sentidos, de gente com algum passado e peripécias comuns, que vão deixando a sua marca e fazendo o seu caminho. Comentaram-se os quitanços&artilhanços , mais um café, um cigarrito e tês dedos de conversa, e bamonos – macho à estrada. Alto de Valongo e descida até Crestuma. Estes entrefolhos do Porto são um labirinto e chegamos à Barragem onde nos esperavam o Ricardo e o Hugo nas suas trails pesadas . Mais um dedo de conversa, marcar o território, descer a pressão e but pró track. Começamos a subir, num misto de quintais e bouças, povoado disperso, relevo arredondado e lamacento das chuvas da semana. A partir de vale da Cova entramos na pré serra (Freita) e sucedem-se colinas pejadas de eucaplipto, estradões, curvas largas. Chegamos ao marco geodésito entre Aveiro e Viseu, reagrupamento, muda-se a água às azeitonas, rehidratação, fotos, partimos. O ritmo aumenta, surgem os primeiros precipícios para aguçar os sentidos, um esbardalhanço ou outro no restolho dos eucaliptais cortados. Entretanto sai-nos ao caminho uma encomenda das boas: Zinga&Villas. Bom reencontro. Cumprimentos, alembraduras, promessas , e seguimos caminho, agora 12 . Por entre montes e vales, aldeia após aldeia, e paramos. Pausa, não passa ninguém, além do Zé no trator, com o ranhoso no reboque a sovar uma ovelhinha e nisto mete conversa: _estaindas à espera dos outres? Tão acolá além naquele largo pra cá da igreja. Agradeço. Voltamos para trás. A AT do Zinga emburrou. Entre carvalhadas e bitaites, o Bruno já estava de posse dela, barriga aberta, corta fio, atarracha fio, fusíveis vistos, start, vrummmm. É máquina. Está no ir. Meio dúzia de Km à Frente estava o Merêncio a parar o transito prá tropa que saia do mato. Fomos à hidratação. Quando cheguei ao tasco o Vilas já estava de aguadeiro e mais alguns chegaram-se. Dali partimos para a Freita e rapidamente chegamos ao parque de campismo. O sitio é bom, telheiro, barbacus, mesas e um bom relvado no qual o Bob propôs acampar - talvez para espicaçar alguém. O almoço foi farto, enchidos, umas conservas, abre-se um tinto, boa conversa, secam-se as vestes por esta hora encharcadas do empenho. Faz-se a quadratura do circulo, trilhos, motas, tintos e spots _ o Vilas ainda forçou o tema de qual o melhor bagaço luso, mas estava em minoria e não pegou. Entretanto chegou o André numa AT com malas, como quem vai para a Bebidorme. “Vai ser o bonito” disse prós meus botões.
(continua)
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Editado pela última vez por Gamito em 16 nov 2015 22:45, num total de 2 vezes.
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14 nov 2015 02:03 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Em Crestuma A Maquina Marco dos 4 Distritos
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14 nov 2015 19:15 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Uma descida trabalhosa para alguns As vistas Spot do Almoço
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14 nov 2015 19:18 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
O Estreante o ET O Miguel a controlar os Km da Maquina
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14 nov 2015 19:20 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Maquinas infernais People coming Zinga
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14 nov 2015 19:22 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Vilas Transito no Monte Pequenos Obstaculos
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14 nov 2015 19:24 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
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14 nov 2015 19:26 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
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14 nov 2015 19:50 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
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14 nov 2015 19:52 |
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Bruno Monteiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Os ApartHoteis, Milhões de estrelas Manha Dificil O "Velhinho"
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14 nov 2015 19:54 |
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Gamito
Aventureiro
Registado: 29 dez 2010 19:50 Mensagens: 1031 Localização: Povoa de Varzim
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
As fotos nao abrem
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15 nov 2015 01:42 |
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Bruno Monteiro
Aventureiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Gamito Escreveu: As fotos nao abrem E agora????
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15 nov 2015 09:00 |
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Bruno Monteiro
Aventureiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
o Acesso os arruamentos Solar dos Martins Vista de Drave
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15 nov 2015 09:26 |
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Bruno Monteiro
Aventureiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
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15 nov 2015 09:28 |
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Bruno Monteiro
Aventureiro
Registado: 24 jun 2010 00:45 Mensagens: 1597 Localização: Braga
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Vista sobe Drave, depois dos trabalhos de Saida a Maquina Rui a matar Saudades O pessoal de Viagem Ups Serôdio Boa disposição sempre presente
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15 nov 2015 09:30 |
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Bruno Monteiro
Aventureiro
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Agostinho Xr's do Passeio Grandes paisagens sempre a curtir Rio Paiva e os passadiços Gamito
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15 nov 2015 09:34 |
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Agostinho Gomes
Aventureiro
Registado: 15 fev 2010 02:04 Mensagens: 3305 Localização: Braga - Paços de Ferreira
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
muito bom!
_________________ Agostinho Gomes e a sua KTM 990 Adventure RS Branquinha
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15 nov 2015 12:08 |
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Gamito
Aventureiro
Registado: 29 dez 2010 19:50 Mensagens: 1031 Localização: Povoa de Varzim
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Bruno Monteiro Escreveu: Gamito Escreveu: As fotos nao abrem E agora???? ta bão
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15 nov 2015 14:40 |
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pmerencio
Aventureiro
Registado: 04 nov 2011 23:17 Mensagens: 613 Localização: Água Longa - Santo Tirso
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
_________________ Carpe Diem! ttrilhosdoxisto
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15 nov 2015 14:49 |
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Gamito
Aventureiro
Registado: 29 dez 2010 19:50 Mensagens: 1031 Localização: Povoa de Varzim
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
_________________ DRZ 400E Transalp 600 ex RMZ 250 ex Husaberg 400 ex Honda xr ex
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15 nov 2015 16:04 |
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Vasco PM
Aventureiro
Registado: 15 fev 2012 09:22 Mensagens: 115 Localização: V. N. de Famalicão
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Belas fotos Bruno. Não conhecia a veia de poeta do Gamito.
_________________ Maçarico... mas com vontade
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15 nov 2015 16:46 |
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Ricardo Andrés
Ric Pastrana
Registado: 15 abr 2009 21:49 Mensagens: 1810
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
_________________ www.xplora.pt - Fotografia Ricardo Andrés
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15 nov 2015 19:19 |
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RuiSpratley
Aventureiro
Registado: 14 out 2009 20:53 Mensagens: 1486 Localização: Matosinhos
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
Brutal
_________________ Suzuki DR 650 SE - O chão é o meu melhor amigo
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16 nov 2015 21:44 |
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Gamito
Aventureiro
Registado: 29 dez 2010 19:50 Mensagens: 1031 Localização: Povoa de Varzim
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
II - SABADO - PÓS ALMOÇO
Após o almoço continuamos em zona granítica (granitóides variscos). Estávamos em pleno planalto da Freita. Um sobe e desce suave na cota, com muita pedra rolada quartzítica, arcoses, água escorrente, prados, boa paisagem e uma pilotagem a exigir empenho mas divertida.
Começamos a descer a Freita. Atravessamos lindas matas de castanheiros, carvalhos, ulmeiros, salgueiros, vidoeiros, que nesta altura têm um colorido especial. As copas transformam-se numa orgia de cores, os castanhos, os amarelos, algum verde, tudo realçado pelo sol outonal, a pedir um brinde à natureza com um bom tinto é um punhado de castanhas assadas. F%&/$%&#& - despertei. As folhas tampam pedras e blocos; bati com a roda numa. Redobro os sentidos, levanto o cuzinho da sela e faço-me ao caminho.
Mais uns quilómetros, e como se diz aqui por cima “ tá a put* armada “. Tudo parado. Vou-me assomar. Bonito. As água bravas da ribeira levaram o caminho. Uns foram a volta a ver se a coisa melhorava outros ficaram a olhar para o Vilas que desafiado, jogou a “bicicleta” pra dentro da ribeira. Foi a tourada. Os urros, a excitação a cada ronco da DR que insistia em cavar o leito. Os fundões e a corrente, ameaçavam mau desfecho. O moço é duro, e um braço amigo repôs o orgulho. Uma já lá está! Claro que se ali permitia “bicicletas”, quanto a entroncadas e mamalhudas a conversa era diferente. Fomos todos para o segundo ponto de vau. Passando 1 a 1, com ajuda na entrada que era a pique e com blocos. Na saída tinha fundão e um degrau. Era algo intimidante na entrada e eu estava marcado do mergulho em Trás os Montes, em que tive de desmontar meia mota. Os primeiros foram passando, com ameaços de banho. Lá me tocou, a mota sai-me ao lado da linha e monta-se num bloco, chego-a à frente, descaio, aponto, gasss sem hesitar, estou lá em cima ... Passaram todos, uns mais outros menos salpicados. 15 minutos para espremer as meias.
Seguimos viagem, o ritmo anima e volta a abrandar com algumas descidas inclinadas. Aqui a paisagem começa a mudar. Entramos no complexo xisto-grauvaquico , com rochas mais impermeáveis, logo maior entalhamento dos cursos de água e maior escoamento superficial que transborda pelos taludes para cima das estradas. As próprias descidas em xisto são mais traiçoeiras, se húmidas ficam sabão. Chegamos a uma aldeia para hidratação (Cabreiros ?). As vistas são deslumbrantes. Enchemos o tasco e o taberneiro fica num misto de alegria e desorientação. Uns preferem louras e frescas, outros pretas ao natural, outras coisas mais fortes. A conversa segue animada e deambula, estancando na educação sexual de mancebos. O Vilas toma a palavra, muito ao jeito da sabedoria popular: quem não tem cão caça com gato e/ou em tempo de guerra não se limpam armas. Num varandim depara-se-me uma velha daquelas bem rusticas, serrana, com a pele encarquilhada dos frios da Freita, a cabeça roda-lhe ao sabor dos protagonistas, com expressões desabridas entre o pasmo e a inocuidade; julgo que aprendeu mais em meia hora que em 70 ou 80 ano. Foram uns bons trinta minutos de desbragada gargalhada. É claro que a coisa seguia bem regada o que apimentou a conversa, havendo quem recorresse a umas mistelas incolores servidas em copos de 20.
Da aldeia até às barbas de Drave foi um estante. Nesta fase formaram-se grupos. A cabrada chegou-se toda à frente e perdi as ATs. Esperei, mirei a paisagem, inspirei os bons ares de altitude, distendi o esqueleto, apertei a carga, e nada… Fui pra frente apanhar o Merêncio e o Miguel Pedro. Nos estradões de acesso às eólicas andou-se a velocidades proibitivas. Foi bom para aliviar o stress da paragem. Estancamos num marco geodésico já com Drave à vista. Subimos lá acima. A uns bons 4 metros do chão, ficamos ali como três rapazes, pendurados por arames, mirando a paisagem e adivinhando no horizonte trajectos presentes e passados. Chegam Bob, Vasco, Serôdio e Tiago. O resto do grupo tarda, mas têm todos GPS e com Drave à vista resolvemos descer.
Curva, contra curva, vamo-nos chegando, a coisa corre bem, mas o aviso havia sido feito, ao ponto do último km ter de se fazer à mão. O Merêncio e o Tiago chegam à aldeia. Vejo-os ao fundo, do tamanho de 1 centimo. Nesta derradeira parte alguns entram em stress. Avalia-se a coisa, acalmam-se as hostes. De facto, como dizem os brasileiros: a coisa ta muito braba. São camadas de xisto longitudinais ao caminho, interpoladas com lajedo esverdeado, por vezes entalhado com o passar das carretas, com degraus e tudo muito inclinado. Dadas umas gargalhadas para aliviar a coisa e com entreajuda saímos dali. As ultimas centenas de metros também não ajudavam, o caminho que mais parecia um leito de ribeira, rocha, calhau, blocos, cheio de água e com precipício do lado. A mota fugia por todos os lados, parar não era opção ou estancava-se. Levava os pneus cheios com medo dos furos, ficando a mota inguiavel nestas condições. Só já tinha na cabeça a aldeia, num banho de cascata, roupa seca e uma fogueira. Concentrei-me e fiz a filhadaputa da trialeira num ápice. Cheguei. Dia longo. Mas valioso…
(continua)
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16 nov 2015 22:19 |
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Miguel Pedro
Aventureiro
Registado: 13 set 2009 15:48 Mensagens: 574
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Re: Relato Passeio a Drave - 7/8 Novembro 2015
....Ó Gamito! a tua prosa aflora-se me à retina em deliciosos vocábulos de descrição fotográfica com uma qualidade insofismável…. :
_________________ "Viajar é atravessar!....................."
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17 nov 2015 14:39 |
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